Título: Wolfowitz: confirmação no Bird em até 3 semanas
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Economia, p. B16

Segundo fonte oficial, tendência é que o Brasil, que representa um grupo de países com 3,1% dos votos da instituição, acompanhe o voto da maioria

Apesar da reação inicial negativa à decisão do presidente americano, George W. Bush, de nomear Paul Wolfowitz, à presidência do Banco Mundial (Bird), o atual vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos e principal ideólogo da invasão do Iraque deverá ser confirmado no posto nas próximas duas a três semanas. "Pode haver ainda um pouco de jogo de cena, mas já está acertado", disse ao Estado um dos participantes do processo de consultas entre os 24 países com assento na diretoria executiva do banco. A disposição do Brasil, que representa um grupo de países com 3,1% dos votos da instituição, é acompanhar o voto da maioria, segundo uma fonte oficial. O secretário do Tesouro, John Snow, ligou na semana passada para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para pedir o voto brasileiro. Houve conversas, também, entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto. Mas essas não foram as únicas gestões que Brasília recebeu sobre a sucessão no Bird. Em meio às consultas que a nomeação de Wolfowitz desencadeou entre os Ministérios de Finanças nos cinco continentes, o governo brasileiro repeliu manobra tentada por alguns países europeus, que sugeriram que nações de peso do mundo em desenvolvimento saíssem na frente em oposição a Wolfowitz.

Brasília rechaçou a manobra não apenas porque não tem interesse em hostilizar e indispor-se com o candidato americano ou com a administração Bush, mas também por calcular que ela poderia ser usada pelos europeus para negociar seu apoio a Wolfowitz com Washington por um preço mais alto. Na semana passada, o jornal financeiro alemão Handelsblatt alimentou essa tese ao informar que Alemanha e França teriam condicionado seu apoio a Wolfowitz ao endosso, por Washington, da candidatura do ex-comissário de comércio da UE, Pascal Lamy, para o cargo de diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC). O embaixador brasileiro Luiz Felipe de Seixas Correa também é candidato ao comando da OMC.

Entre os países do Grupo dos Sete (G-7), o Japão foi o primeiro a comunicar a Washington que apoiará Wolfowitz. Ontem, Canadá e Alemanha seguiram o exemplo e endossaram publicamente o controvertido alto funcionário americano. O chanceler alemão, Gerhard Schr¿der, disse, em entrevista à emissora NTV, que tinha comunicado sua decisão a Bush por telefone. Em Ottawa, um porta-voz do Ministério das Finanças disse que "Wolfowitz é um candidato muito sério e com credibilidade.

O presidente da França, Jacques Chirac, anunciou na semana passada que seu governo não será obstáculo à eleição do candidato de Bush. Por tradição, os europeus indicam o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e os americanos, o presidente do Banco Mundial.

Em plena ofensiva para angariar simpatias, Wolfowitz concedeu várias entrevistas à jornais europeus, no fim de semana, nas quais afirmou que não usará a presidência do banco como instrumento da política dos Estados Unidos. Esta semana, ele visitará Bruxelas para explicar seus planos para o banco à União Européia.