Título: Amorim fala com Lamy, que pode ganhar o apoio do Brasil
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Economia, p. B7

Candidato da UE telefona pedindo voto na OMC, chanceler deixa questão em aberto O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixou ontem aberta a possibilidade de o Brasil apoiar o francês Pascal Lamy à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Respaldado pela União Européia, Lamy telefonou na manhã de ontem para Amorim para pedir voto e, conforme o relato do chanceler, não recebeu resposta negativa nem positiva. Amorim não anunciou publicamente a posição do Brasil nesta nova etapa do processo de escolha para o posto máximo da OMC e alegou que ainda tem dez dias para definir qual nome o País apoiará ou se deverá se abster. Ao final da reunião de chanceleres da Comunidade Sul-americana de Nações (Casa), no Itamaraty, Amorim deu claros sinais de que o governo está em processo de revisão de sua bandeira de campanha, centrada na defesa de que a OMC deveria ser conduzida por um representante do mundo em desenvolvimento. Em seu ponto de vista, o embaixador brasileiro Luiz Felipe Seixas Corrêa, candidato eliminado sexta-feira, teria todas as condições de vencer na etapa final da eleição. Mas destacou que essa posição fazia parte de uma estratégia que já está no passado.

"Não basta ter nascido em um país em desenvolvimento. É preciso ter atuação política que corresponda aos interesses dos países em desenvolvimento, reconhecendo que a OMC congrega todo o tipo de país e que tem de ter uma dose de imparcialidade", disse o chanceler, ao indicar a possibilidade de apoio a Lamy. "Como há tremendo déficit de desenvolvimento na OMC, uma pessoa e suas circunstâncias que tenham as características de liderança seria o ideal para os países em desenvolvimento."

Ao final da reunião, o chanceler do Uruguai, Reinaldo Gargano, disse que não tratou com Amorim da candidatura de seu compatriota Carlos Pérez del Castillo nem pediu o voto do Brasil.

O ministro brasileiro, por sua vez, expôs sua aversão ao candidato uruguaio ao declarar à imprensa que não considera "estranho" o Brasil deixar de apoiar Perez, o único candidato do grupo de países em desenvolvimento, o G-20.

No mesmo encontro, o presidente do Conselho de Representantes Permanentes do Mercosul, o argentino Eduardo Duhalde, apresentou sua proposta de convergência das posições dos países sul-americanos em futuros processos de escolha para postos-chave de organismos internacionais. A morim reconheceu que houve erros de avaliação por parte do Brasil. Mas insistiu que, se pudesse voltar no tempo, lançaria de novo a candidatura de Seixas Corrêa no final do ano passado. O nome do candidato das Ilhas Maurício, Jaya Krishna Cuttaree, não foi tocado pelo chanceler brasileiro.

"Nós erramos em algumas avaliações, inclusive sobre o grau de transparência do processo. Senão, teríamos ganho. Mas isso é caso encerrado", disse. "A escolha é difícil. Mesmo que o Brasil não tivesse tido seu candidato, ainda assim seria uma escolha difícil."