Título: Eleição do cardeal alemão preenche expectativas de Bush
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Especial, p. H2

Presidente americano vê no novo papa poderoso avalista de sua campanha contra o aborto e o casamento de homossexuais WASHINGTON-O presidente George W. Bush definiu ontem o papa Bento XVI como "um homem de grande sabedoria e fé". Ele soube da eleição do cardeal alemão Joseph Ratzinger depois da cerimônia de inauguração da biblioteca presidencial Abraham Lincoln, em Springfield, Illinois. Lembrou o sermão que o prelado fez na sexta-feira passada na missa de réquiem de João Paulo II. "As palavras dele tocaram nossos corações", disse Bush. "Juntamo-nos a nossos cidadãos e aos milhões ao redor do mundo que rezam pela continuada força e a sabedoria de Sua Santidade na liderança da Igreja Católica", acrescentou.

A continuidade do rigor doutrinário garantida pela escolha de Ratzinger dificilmente resolverá as dificuldades do Vaticano para conter o declínio da Igreja nos EUA, que se acelerou durante o pontificado de João Paulo II. Para Bush e a ala mais conservadora do Partido Republicano, porém, a escolha mantém na Santa Sé um importante aliado e poderoso avalista da campanha doméstica para tornar o aborto ilegal e proibir o casamento entre homossexuais - importantes bandeiras de mobilização política da direita religiosa no país.

O Departamento de Estado teve uma reação mais política. "Queremos continuar a trabalhar com o papa e a Santa Sé para ampliar nossa já excelente relação bilateral e promover a dignidade humana ao redor do mundo", afirmou o porta-voz Adam Ereli.

INDIFERENÇA

Em Buenos Aires, não houve a mesma comemoração festiva ocorrida em outras capitais latino-americanas, como Bogotá e Quito. A expectativa dos argentinos - documentadas em várias pesquisas de opinião - era a de que o escolhido seria um cardeal progressista e latino-americano. A eleição do conservador Ratzinger foi decepcionante para eles.

A falta de entusiasmo dos argentinos deve-se também à sua pouca religiosidade. Embora mais de 80% dos argentinos tenham sido batizados na Igreja Católica, menos de 10% definem-se como praticantes.

Além disso, sacerdotes argentinos envolveram-se nos últimos anos em vários escândalos sexuais e financeiros. De quebra, a Igreja teve pouca intervenção nos momentos difíceis enfrentados pelo país durante a crise econômica, social e política entre 2001 e 2003.

Pesquisa feita pelo site na internet do Clarín, o maior jornal do país, indicou que a eleição de Ratzinger satisfez apenas 25,5% dos internautas, enquanto 44,6% disseram preferir qualquer outro o candidato. Para 29,9%, a situação não está clara, sendo necessário dar um tempo ao novo papa.

A mídia local deu destaque também para uma previsão feita pelo ufólogo e especialista em fenômenos paranormais Fabio Zerpa. Segundo ele, Bento XVI terá um pontificado breve, vai morrer no ano de 2008.