Título: Após a alegria da eleição, os problemas da Igreja
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Especial, p. H2

Novo papa precisará enfrentar desafios como a perda de fiéis e escândalos sexuais envolvendo padres O papa Bento XVI herda de João Paulo II uma Igreja com muitos desafios e deve entender a diversidades para se aproximar dos fiéis. Confira quais são os principais desafios que Joseph Ratzinger deverá enfrentar em seu pontificado.

Finanças do Vaticano

A Santa Sé vem apresentando déficits em seu orçamento nos últimos três anos em razão da desvalorização do dólar, das quantias milionárias que foi obrigada a desembolsar em acordos por causa de escândalos de abusos sexuais e da redução nas doações. A ampla rede diplomática ao redor do mundo criada por João Paulo II é outro motivo que tem aumentado os déficits.

Fuga de fiéis

Nos últimos anos foi verificada uma redução drástica no número de católicos pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, dispostos a seguir a vida monástica. Houve também uma queda no número de fiéis em quase todos os países, seja por conversão a alguma outra religião, seja por decisão de não seguir religião alguma.

Questões morais

Apesar da oposição ferrenha da Igreja ao aborto e à utilização de métodos para controle de natalidade e também à utilização de células embrionárias em pesquisas científicas, é cada vez maior o número de católicos, principalmente nos países ricos, que faz pouco caso da posição do Vaticano frente a essa questão.

Escândalos por abusos sexuais

Os casos de abuso sexual cometidos por padres contra fiéis afetou profundamente a imagem da Igreja nos últimos anos. Além do prejuízo financeiro causado pela altas indenizações pagas, o Vaticano viu a fuga de fiéis aumentar e sua atitude moral ser mais questionada, principalmente nos Estados Unidos, maior fonte de doações para a Igreja Católica. As manifestações de protesto contra a missa rezada na semana passada após a morte de João Paulo II pelo ex-arcebispo de Boston, Bernard Law, acusado de tentar acobertar casos de abuso nos Estados Unidos, mostram o descontentamento dos católicos sobre o assunto.

Centralização de poder

Setores mais liberais estão descontentes com a centralização no processo de tomada de decisões do Vaticano, intensificado durante o papado de João Paulo II. Esses setores pedem a criação de conselhos nacionais de bispos, e também de laicos, que tenham maiores oportunidades para opinar sobre os assuntos internos da Igreja.

Papel das mulheres

O novo papa terá de enfrentar as vozes, cada vez mais volumosas, que defendem o ingresso das mulheres em cargos da Igreja Católica, hoje reservados exclusivamente para os homens. A queda no número de fiéis dispostos a entrar para o seminário é um dos argumentos dos que defendem a permissão para que as mulheres assumam postos na Igreja, uma vez que há cada vez menos pessoas para assumir os postos. João Paulo II foi frontalmente contra a permissão para que as mulheres pudessem exercer as funções dos homens na Igreja.

Relações com outras religiões

Apesar do progresso de João Paulo II nas relações com judeus, protestantes e muçulmanos, o relacionamento com ortodoxos russos e com determinadas seitas evangélicas ainda é problemático e vai exigir do novo papa uma boa dose de habilidade diplomática. O avanço de seitas evangélicas, principalmente na América Latina, e do islamismo em parte da África também é um tema delicado a ser enfrentado por Bento XVI.

Justiça social

O novo papa deverá discutir com outros membros da Igreja e com diferentes setores da sociedade internacional sobre problemas como guerra, direitos humanos e justiça para os pobres. Alguns setores da Igreja Católica reclamam que, apesar do posicionamento contrário de João Paulo II à guerra e à violação dos direitos humanos, o Vaticano priorizou nos últimos anos a defesa de valores morais em detrimento da dignidade humana e do combate à pobreza.