Título: Deputados europeus já atacam o novo papa
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Especial, p. H2

Eles criticam posições conservadoras sobre, por exemplo, divórcio e aborto

Um grupo de deputados do Parlamento Europeu partiu para o ataque contra o cardeal alemãoJoseph Ratzinger, eleito ontem papa, depois de apenas quatro votações no Colégio Cardinalício. A crítica é contra o conservadorismo do novo papa, que se deu o nome de Bento XVI, em relação à doutrina da Igreja. Na segunda-feira, durante a missa que abriu o conclave, Ratzinger defendeu uma atitude mais ortodoxa da Igreja e alegou que a proliferação de seitas seria conseqüência de uma "fé infantil". Os deputados do Partido Radical, responsável na Itália pelas leis sobre aborto e divórcio, não gostaram e reagiram negativamente. "Ele (Ratzinger) tem um discurso sobre o poder, não sobre a religião", afirmou o italiano Marco Pannella, um dos euro-deputados mais polêmicos, conhecido por suas greves de fome, que foi eleito pelo Partido Radical. A fala de Ratzinger, cotado como possível sucessor de João Paulo II durante a última semana, foi interpretada como discurso de campanha.

Ao participar de um protesto do partido na Praça de São Pedro, ontem, Panella disse que os fiéis católicos os acolhem sem problemas. A barreira para as idéias do grupo, emendou ele, é a estrutura de poder da Igreja. Depois de conseguir, nos últimos anos, a aprovação de leis que vão na direção contrária aos pensamentos da Igreja, o partido italiano pensa agora em lançar o debate sobre dois temas bastante polêmicos: a bioética e a clonagem de células para tratamento médico.

Para ele, outro ponto crítico na postura da Igreja é o tratamento dado ao homossexualismo - condenado com veemência, como o uso da camisinha e de outros métodos anticoncepcionais. "Não digo que a Igreja é controlada por homens. É um poder monossexual", completou.

IDENTIDADE

Para o euro-deputado, o novo papa deveria ser chamado de João XXIV. "João XXIII fez, em cinco anos, mais do que Igreja fez em cem anos", disse Pannella, fazendo uma menção ao Conselho do Vaticano II, estabelecido por João XXIII. "Agora, Ratzinger tenta matar esse espírito da reforma", completou, em referência ao conservadorismo do novo pontífice.