Título: D. Eugênio e d. Serafim dão todo apoio à escolha
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Especial, p. H2

Com mais de 80 anos e sem direito a voto no conclave, os dois cardeais brasileiros elogiam, em conversa com o Estado, a escolha feita pelos colegas CIDADE DO VATICANO-Os cardeais Eugenio Araújo Sales, arcebispo emérito do Rio, e d. Serafim Fernandes de Araújo, arcebispo emérito de Belo Horizonte, que não participaram do conclave por terem mais de 80 anos, receberam com entusiasmo e emoção a eleição do alemão Joseph Ratzinger para a sucessão do polonês Karol Wojtyla. "Sou um homem muito feliz, pois acredito que Bento XVI vai dar continuidade ao pontificado de João Paulo II. Ele é um homem ao mesmo tempo suave e forte, um homem de coragem que não tem medo de dizer o que pensa", afirmou d. Eugênio, amigo de Ratzinger desde o Concílio Vaticano II, há mais de 40 anos.

Exemplo dessa franqueza, observou o cardeal, foi a homilia que o decano fez anteontem, na abertura do conclave. Ele denunciou o relativismo na prática da moral católica e os extremismos ideológicos do mundo atual. Na opinião de d. Eugênio, foi um discurso de quem não queria ser papa, pois ele jogou ali toda a sorte dele.

"Se Ratzinger estivesse pensando em ser papa, não falaria o que falou, porque poderia temer que houvesse resistência. Falou, porque não tem medo de falar e também não devia estar pensando na eleição", disse d. Eugênio. Para o cardeal, Bento XVI deverá surpreender por sua firmeza e por sua doçura.

D. Eugênio acha que haverá resistência à eleição do ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, principalmente por parte daqueles que teve de punir. "Mesmo esses terão de se lembrar, no entanto, de que, se Ratzinger castiga, é para corrigir e emendar."

BOFF

O cardeal citou o caso do teólogo Leonardo Boff, o ex-franciscano que deixou o sacerdócio depois de ser punido pela Congregação para a Doutrina da Fé. "Leonardo foi punido porque recorreu a Roma e o cardeal Ratzinger fez o que julgou ser seu dever." D. Eugênio lembrou que Ratzinger dirigiu o primeiro curso para bispos, organizado há cerca de dez anos no Rio por d. Karl Romer, atual secretário do Pontifício Conselho para a Família, no Vaticano. "Esperávamos reunir uns 50 bispos, mas quando se soube quem seria diretor do curso, inscreveram-se 127".

Feliz com a escolha, d. Eugênio mal acreditou que Ratzinger era mesmo o novo papa. "Estou com 84 anos, não podia ir à Praça de São Pedro, que fica aqui ao lado, mas comemorei como pude: fui rezar na capela." O cardeal espera ser convidado para ir ao Vaticano abraçar o amigo.

D. Serafim, de Belo Horizonte, também prevê reações e críticas ao novo papa, mas concorda que Bento XVI vai surpreender. "Ele será um pai e um irmão até para aqueles que puniu."

"João Paulo II deve ter ficado muito satisfeito no Céu com a eleição, porque o cardeal Ratzinger foi a sua força e seu braço direito durante muitos anos", observou d. Serafim. Hospedado numa casa de freiras ao lado do Vaticano, o cardeal de Belo Horizonte também está esperando um convite para ir prestar obediência a Bento XVI.