Título: Aldo reassume com tarefa de salvar MP do imposto
Autor: Denise Madue¿o
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2005, Nacional, p. A5

Ministro da Coordenação Política volta à ativa para evitar nova derrota na Câmara

BRASÍLIA - Preservado no cargo, depois de um longo período de fritura e desprestígio, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, "reassumiu" ontem suas funções com a tarefa de preservar interesses do governo na discussão da MP 232 - que aumenta impostos de prestadores de serviço e corrige a tabela do Imposto de Renda em 10% - e evitar que ela seja alterada prejudicando interesses do governo. Aldo já marcou uma reunião com os líderes de partidos aliados na Câmara e no Senado, na próxima segunda-feira, para discutir o assunto, na primeira reação do governo depois de quase um mês de derrotas na Câmara. Aldo parte para a ação na tentativa de reorganizar a base, preservar projetos de interesse do governo e evitar que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), dê andamento à pauta de votações em sentido contrário ao que deseja o Planalto. Aldo teve de ser rápido, já que Severino pôs a MP na pauta de votações da próxima terça-feira, antecipando em dois dias a data em que a medida passaria a trancar a pauta de votações e três dias antes de entrar em vigor o sistema de pagamento de imposto criado pela MP.

Governistas, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já admitem que, se houver dificuldades na votação da MP 232, o governo deveria até retirá-la da pauta para abrir nova rodada de negociações.

A intenção da primeira reunião de Aldo é fazer uma radiografia da base para saber com quantos e com quem o governo pode contar nas votações na Câmara para traçar estratégia realista, "sem ilusões", como resumiu um interlocutor do ministro. A ordem agora é permitir a votação apenas quando houver garantia de vitória.

ENTROSAMENTO

Elogiando Aldo Rebelo, Renan Calheiros defendeu ontem um modelo de articulação que envolva todos os ministros políticos, inclusive os do PT, nesse trabalho. "Se não houver isso, vai dificultar o trabalho do ministro Aldo (Rebelo, da Coordenação Política)", afirmou Renan. "É preciso dividir responsabilidades, e todos precisam ser engajados nesse esforço. A base é complexa e heterogênea."

O entrosamento entre parlamentares da base e pelo menos a área mais técnica do Executivo parece já acontecer no caso da MP 232. O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara e que também defende a retirada na MP do Congresso caso haja risco de derrota, contou que conversou ontem com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, e argumentou que, se houver risco de rejeição, o governo deve retirá-la. "Independentemente dos ajustes, o governo não pode perder nesse momento."

Na avaliação dos aliados uma derrota do governo na votação da MP significaria dar prestígio político a Severino, que se tornou um porta-voz contra a MP em viagens pelo País. O presidente da Câmara está em baixa depois de ter sido apontado como o principal responsável pelo fato de o PP ter ficado de fora do ministério com o ultimato que deu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso feito segunda-feira.

Para o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), a decisão do presidente Lula de se reunir com todos os partidos aliados é importante para pacificar a base. "Creio que Lula vai se voltar mais para a articulação política e quer inaugurar uma nova etapa se aproximando dos parlamentares." Ontem Lula recebeu o PTB. A próxima reunião será com o PL. Já faz tempo que os aliados se queixam do tratamento recebido do governo e as votações mostram essa insatisfação. "Há ministros que não têm sensibilidade. Aldo Rebelo, na coordenação, vai chamá-los e enquadrá-los", disse Jefferson.