Título: Oposição torna inviável estratégia do Planalto
Autor: Eugênia Lopes Denise Madue¿o
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Nacional, p. A4

Antes da sessão da noite, aliados apostavam na pressão da classe média para aprovar logo o projeto de lei que substituiria MP A idéia de desmembrar a Medida Provisória 232 atropela a estratégia do governo de retirar a medida provisória e de tentar atrair a classe média para conseguir aprovar projeto de lei que corrija a tabela do Imposto de Renda e, ao mesmo tempo, crie mecanismos para compensar as perdas de arrecadação. As lideranças do governo, à tarde, ao explicarem a desistência de votar a MP, diziam confiar na mobilização dos trabalhadores a favor do projeto de lei sobre o assunto, porque os assalariados sentiriam no bolso a retirada da MP. Uma vez retirada a MP 232, deixaria de valer a nova tabela do IR, reajustada em 10%, em vigor desde janeiro, disse ontem o secretário-adjunto da Receita Federal, Ricardo Pinheiro. Se a MP chegar ao fim, volta a vigorar a tabela antiga, com as faixas anteriores de cálculo do imposto.

Antes do contra-ataque da oposição, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), previa a entrada dos assalariados no debate, "o que provocará uma pressão política". O deputado Carlito Merss (PT-SC), na mesma linha, desenhava um cenário que "os grandes derrotados são os 7 milhões de assalariados que são alcançados pela correção da tabela do IR. E os vitoriosos foram os que sonegam e praticam elisão fiscal".

Mas essa estratégia do governo de contar com a mobilização da classe média estava sendo minada já na tarde de ontem. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical cobraram do governo, em notas, a manutenção do índice de 10% na correção da tabela. O presidente da CUT, Luiz Marinho, disse que a correção foi um compromisso assumido no fim do ano pelo governo. "Lembramos, inclusive, do compromisso do presidente Lula de corrigir a tabela do IR com a inflação correspondente a seus quatro anos de mandato", ressaltou.

O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, até elogiou o "bom senso" do governo de desistir da MP. Mas pedia um avanço de posição:"Agora precisa, de forma urgente, validar a correção da tabela do IR, em novo texto. É absurdo e inaceitável que, na ânsia de defender sua fúria arrecadatória, o governo esteja indeciso e ainda não tenha demonstrado de forma convincente se vai honrar o acordo com as centrais", disse, na nota.

GREVE

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno José Bezerra, anunciou que vai propor um dia nacional de greve. "Não vamos fazer greve para aumentar impostos. O governo tem de manter o acordo de correção da tabela do IR", reclamou Bezerra.

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, o governo não cumpriu o acordo firmado de reajustar a tabela do IR ao decidir rejeitar toda a MP 232 e não apenas a parte que tratava do aumento de impostos para os prestadores de serviços. "Medida provisória com ônus, ou seja, com aumento de impostos não passa no plenário", sentenciou. A Frente Brasileira contra a MP 232 pretende fazer hoje uma carreata na Esplanada dos Ministérios, com mais de mil carros, contra a proposta do governo. "Vamos enterrar de vez essa medida provisória", garantiu Afif.