Título: Humberto Costa passa de zumbi a exemplo de eficiência
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2005, Nacional, p. A7

Ministro da Saúde, Humberto Costa, sobrevive no cargo e se fortalece com intervenção nos hospitais do Rio

BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Humberto Costa, não disfarçava ontem a sua satisfação com a suspensão da reforma ministerial e a sua permanência no cargo, depois de passar meses vivendo o desgaste de freqüentar todas as listas dos demitidos. Depois de participar, revigorado, da reunião ministerial comandada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Costa voltou para o ministério e passou a tarde recebendo telefonemas de congratulações. Depois da fase de desgaste, ele esteve menos ansioso nos últimos dias, com a multiplicação das manifestações de apoio de políticos e médicos sanitaristas, principalmente em razão da intervenção que ele mesmo comandou no Sistema Único de Saúde (SUS) do Rio de Janeiro. A virada oficial - a informação de que ele permaneceria no cargo - chegou a sua assessoria anteontem à tarde, ao mesmo tempo em que o presidente Lula decretava o fim da reforma.

Costa sempre resistiu heroicamente às informações de que seria demitido. Desde o início do ano ele enfrentava os boatos com afirmações ostensivas de que ficaria no governo. Seus assessores contam que o primeiro sinal positivo efetivamente recebido de que estava em alta no governo surgiu quando o presidente Lula lhe deu sinal verde para intervir na saúde do Rio de Janeiro. Ele recebeu a aprovação para desencadear a operação como um sinal de que a confiança que o presidente depositava nele estava intocada.

Agora, confirmado como ministro, Humberto Costa sabe que tem pela frente outras missões espinhosas. A principal delas, como corolário da intervenção que o salvou, será conseguir reestruturar em caráter permanente o SUS no Rio de Janeiro. Do mesmo jeito que a intervenção o salvou, o fracasso dessa nova missão significará, sem dúvida, a sua demissão.

Ele terá, ainda, de conduzir a polêmica política nacional de direitos sexuais e reprodutivos, que prevê a ampliação da oferta da pílula do dia seguinte, medicamento considerado abortivo pela Igreja Católica. O programa também lançou outra medida atacada pela Igreja, a norma técnica que dispensa a apresentação de Boletim de Ocorrência policial para realização de aborto em caso de estupro.

Essa medida pode ser inócua, já que o Conselho Federal de Medicina (CFM) avisou que vai orientar os profissionais para continuarem exigindo das clientes que demandarem o serviço a apresentação de Boletim de Ocorrência, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) considere a nova norma legal.

Uma terceira tarefa delicada para Humberto Costa será conseguir para o Brasil o benefício da quebra de patente de cinco medicamentos usados para tratar pacientes com aids. O ministro já participou de reuniões com laboratórios públicos, indústria farmacêutica e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para criar condições de produção de novas drogas no País a partir de 2005.

Atualmente a compra de drogas importadas representa 80% dos gastos com a terapia anti-retroviral; os 20% restantes são usados na produção nacional. Este ano o País gastou R$ 586 milhões com medicamentos do coquetel. Para 2005, o orçamento da saúde reservou uma dotação de R$ 600 milhões.