Título: Alencar evita responder se as Farc são grupo terrorista
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2005, Nacional, p. A9

Vice-presidente faz declarações dúbias sobre atuação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

BRASÍLIA - O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, disparou ontem declarações dúbias sobre a qualificação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo governo brasileiro. Ao lado do secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, Alencar esquivou-se duas vezes de responder claramente se o Brasil considera o grupo como terrorista. Na terceira vez, depois de acompanhar seu convidado até a saída lateral do Palácio do Planalto, mostrou-se desconcertado por não ter sido compreendido. "Só falta agora eu pegar uma arma na mão. Porque já falei o que tinha que falar", declarou, sem mais esclarecimentos.

O que Alencar havia falado, horas antes, era que o governo brasileiro vem se preocupando com ações criminosas voltadas para a obtenção de recursos e que não respaldaria esse tipo de crime. A palavra terrorismo ficou longe da resposta do político mineiro como a própria sigla Farc.

Nos dois anos e três meses de mandato, o governo Luiz Inácio Lula da Silva jamais qualificou dessa forma o principal grupo guerrilheiro da Colômbia. Em princípio, essa omissão do Brasil se deve à acalentada possibilidade de o País ser chamado a intermediar o diálogo entre o governo colombiano e as Farc.

"Somos a favor da paz. Claro que nós, à distância, não podemos fazer juízo dessa coisa. Mas, adotar o crime como meio de levantar recursos obviamente é uma ação nefasta que deve ser combatida", havia declarado.

Apesar de ser o anfitrião desse seu segundo encontro com Rumsfeld, Alencar mostrou-se tão intimidado pela presença de um dos "falcões" do governo George W. Bush que chegou a engrossar suas críticas à imprensa.

O vice-presidente começou a entrevista coletiva sem mencionar absolutamente nada sobre seu encontro com Rumsfeld e preferiu apenas pedir aos jornalistas que fizessem perguntas objetivas.

O secretário de Defesa, por sua vez, não perdeu tempo para citar a parceria positiva entre os dois países desde a 2.ª Guerra Mundial e sua visão favorável sobre a liderança do Brasil na missão de estabilização no Haiti.

Logo na primeira questão, sobre uma suposta iniciativa dos Estados Unidos de monitorar o espaço aéreo da Argentina - notícia veiculada na imprensa argentina -, Alencar preferiu apenas fazer eco a Rumsfeld, sem nada acrescentar de substancial. "Não acreditem em tudo o que sai nos jornais. Não vi o artigo, mas posso dizer que está errado", afirmou o secretário de Defesa. "Entre 1770 e 1780, Thomas Jefferson disse que nem sempre lendo os jornais uma pessoa fica informada", arrematou Alencar, referindo-se ao presidente americano de 1801 a 1809.