Título: 50 mil podem ter sido expostos a mal de Chagas
Autor: Kazuo Inoue
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2005, Vida, p. A13

Governo de SC estima que o surto possa se espalhar pelo País, já que dezenas de milhares de pessoas passaram pelo Estado em fevereiro, época de grande movimento

A Secretaria de Saúde de Santa Catarina trabalha com a estimativa de que cerca de 50 mil pessoas podem ter se exposto à doença de Chagas após consumirem caldo de cana contaminado em quiosques às margens da BR-101, entre os municípios de Piçarras e Itajaí, em fevereiro. O Ministério da Saúde confirmou ontem mais duas mortes, totalizando agora cinco. Dos 45 casos suspeitos, 41 foram confirmados. O ministério descartou a possibilidade de haver uma epidemia da doença em Santa Catarina por considerar que a doença no País está sob controle. O diretor da Vigilância Epidemiológica do Estado, Luiz Antonio Silva, explicou ontem em Florianópolis que não é possível determinar a quantidade de possíveis contaminados de outros Estados, mas ele teme que o surto possa se espalhar pelo País, já que foi grande o movimento de turistas na rodovia no período. Há casos confirmados em São Paulo e no Paraná e um suspeito em Brasília.

A recomendação das autoridades é que as pessoas que consumiram caldo de cana na região em fevereiro procurem com urgência o serviço de saúde de suas cidades se estiverem ou não com os sintomas (veja texto ao lado). O mal de Chagas, em sua forma aguda, pode matar e as drogas existentes só são eficazes na fase inicial.

O paciente que apresentou a doença em São Paulo está internado desde o dia 11 na unidade de terapia semi-intensiva do Hospital Samaritano. Conforme boletim médico divulgado ontem, Sandoval Barbosa Rodrigues, de 26 anos, foi diagnosticado como tendo a forma aguda do mal de Chagas. Seu quadro clínico é estável, mas ainda não há previsão de alta.

Para orientar e esclarecer dúvidas, o Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde pôs à disposição o telefone 0800-555466. São Paulo não registrava um caso da doença de o início da década de 70.

Em Curitiba, o caminhoneiro Jair Pedro Fritzen, de 33 anos, está internado no Hospital Nossa Senhora das Graças com diagnóstico da doença. É o primeiro caso notificado no Paraná - embora Fritzen more em Joinville (SC). Ele tomou o suco em um quiosque na BR-101, no município de Navegantes, em 12 de fevereiro. Segundo o infectologista Clóvis Arns da Cunha, o paciente foi medicado e se recupera bem.

A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde explicou que um paciente está hospitalizado em Brasília, mas não soube informar seu estado de saúde. Ele esteve em Santa Catarina a passeio.

O vice-presidente da Câmara de Municipal de Balneário Camboriú (SC), Claudir Maciel (PPS), é outra vítima. Ele começou a sentir-se mal na sexta-feira e foi internado na terça no Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, onde há cinco outros pacientes. O hospital informou que quatro já saíram da terapia intensiva e estão estáveis. Em Joinville, cinco pessoas permanecem internadas, uma em estado grave.

MOBILIZAÇÃO

O Ministério da Saúde informou que foram enviados para Santa Catarina medicamentos suficientes para tratar 60 pessoas com sintomas. O Estado também receberá do governo federal kits de remédios para fazer o diagnóstico da doença.

"As secretarias municipais de saúde estão sendo mobilizadas para poderem fazer o teste a partir de segunda-feira. Estamos recebendo 40 mil kits do Ministério da Saúde", disse Silva, da Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina. Segundo ele, no momento não existe estrutura suficiente para atender à demanda.

Desde o início da semana, técnicos da Vigilância Epidemiológica, do ministério e de outros órgãos tentam descobrir a origem da cana de açúcar contaminada e os focos de barbeiro, o inseto transmissor da doença. Além disso, a Vigilância Sanitária está interditando todos os pontos-de-venda de caldo de cana, que está proibido em todo o Estado.

A Secretarias de Saúde do Paraná e do Rio Grande do Sul solicitam que façam exames todas as pessoas que estiveram em Santa Catarina entre 1.º de fevereiro e 20 de março e consumiram caldo de cana.

Somente ontem, 67 pessoas procuraram os postos de saúde gaúchos para coletar sangue. Os resultados devem ficar prontos em cinco dias. O Estado proibiu a venda de caldo de cana em todo o seu litoral norte até que se esclareça a origem do foco em Santa Catarina.