Título: Testemunha diz que MST treina guerrilha com as Farc
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Nacional, p. A10

Segundo denúncia feita à CPI da Terra, centro de treinamento fica em Pernambuco BRASÍLIA-Uma testemunha, que pediu para o nome não ser revelado por razões de segurança, denunciou ontem à CPI Mista da Terra a existência de um centro de treinamento de guerrilha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), localizado na Fazenda Normandia, próximo a Caruaru, Pernambuco. O centro, segundo a testemunha, teria sido construído com recursos de ONGs internacionais e do programa de reforma agrária do governo federal e teria, entre seus monitores, um emissário das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O guerrilheiro das Farc, conforme informou a testemunha, seria o ex-padre colombiano de nome Bernardo. Sua missão seria ensinar aos militantes do MST táticas guerrilheiras para invasões de propriedades, saques de caminhões e ocupações de prédios. A testemunha, um técnico agrícola cearense que diz ter trabalhado por cerca de um ano para o MST, entregou à CPI fotografias e um vídeo de 15 minutos retratando o dia-a-dia do centro. No vídeo, o suposto padre aparece num quadro conversando com uma criança e em outro dialogando com adultos, com sotaque castelhano.

O depoimento foi visto com reservas pelo presidente da CPI, senador Alvaro Dias (PSDB-PA) e contestado pelo relator, deputado João Alfredo (PT-CE). Dias decidiu consultar a Embaixada da Colômbia para saber se há algum fundo de verdade na acusação que mereça ser investigado, antes de acionar a Polícia Federal. Para Alfredo, a testemunha não trouxe qualquer prova e tudo não passa de acusação leviana. "Não dá para acusar alguém de ser guerrilheiro das Farc apenas por ter sotaque castelhano", criticou.

Bernardo, segundo o técnico agrícola, estaria vivendo como assentado da reforma agrária num assentamento perto de Fortaleza. "Para comprovar, é só a polícia ir lá e ouvi-lo", afirmou. A testemunha disse ter se desligado do MST por discordar da pregação revolucionária do movimento. "Acho que revolução se faz pela educação, não com esses métodos", afirmou.

O centro de treinamento, com capacidade estimada para mil pessoas, teria sido construído numa área desapropriada para fins de reforma agrária. O dinheiro teria vindo de uma ONG internacional e de entidades sindicais ligadas ao MST que recebem recursos do governo para a reforma agrária. Duas dessas entidades, a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) e a Confederação Nacional das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (Concrab), tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrados pela CPI.

Mas a investigação está paralisada porque parlamentares ligados ao MST impetraram ação judicial e obtiveram liminar no Supremo Tribunal Federal. Dias acha suspeito o comportamento desses parlamentares e insistirá na quebra de sigilo para que as contas dessas entidades sejam analisadas.