Título: Relatório inocenta Annan e acusa filho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Internacional, p. A13

Comissão não encontra provas suficientes do envolvimento de secretário-geral da ONU no escândalo Petróleo por Alimentos O relatório da comissão independente que investigou o programa Petróleo por Alimentos, divulgado ontem, não encontrou provas suficientes sobre o envolvimento do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em irregularidades. Mas acusou o filho de Annan, Kojo, de tentar ocultar suas relações trabalhistas com a empresa suíça Cotecna - que obteve contratos milionários no programa - e de não cooperar com a comissão investigadora (ler abaixo). Embora não tenha atribuído culpa a Annan, o relatório criticou o secretário-geral por seu pouco empenho na investigação do escândalo. A comissão investigadora que elaborou o relatório foi liderada pelo ex-presidente do Federal Reserve Paul Volcker. O documento relata que o ex-chefe de gabinete de Annan, Iqbal Riza, destruiu grande quantidade de papéis ligados ao programa um dia depois que o Conselho de Segurança aprovou a abertura da investigação.

Logo após a divulgação do relatório, Annan disse considerar que a investigação o isentou de toda suspeita de má conduta, garantindo que não renunciará ao cargo. "Demônios, não! Tenho muito trabalho pela frente e não renunciarei", disse, durante a entrevista sobre o relatório.

O secretário disse-se desolado com as conclusões do relatório, segundo as quais Kojo escondeu seu verdadeiro papel na Cotecna. "Amo meu filho, e sempre esperei dele os maiores níveis de integridade. Estou muito triste depois de saber que ele se comportou de maneira contrária a isso, e especialmente pelo fato de que não tenha cooperado completamente na investigação", disse.

Annan afirmou ainda que aceitava a crítica incluída no relatório de que ele não encaminhou uma investigação adequada quando soube que a empresa de seu filho tinha fechado um contrato milionário com a ONU.

Segundo o relatório, não há provas de que Annan soubesse que a empresa na qual seu filho trabalhava tinha fechado um contrato com a ONU. "Se soubesse, teria incorrido em conflito de interesses", diz o documento.

Após a divulgação do relatório, o Departamento de Estado americano expressou seu apoio a Annan. O porta-voz do departamento, Adam Ereli, disse que Washington segue considerando Annan um parceiro confiável, com o qual continuará trabalhando lado a lado.

O Ministério de Relações Exteriores da França também expressou "total apoio" a Annan, acrescentando que Paris mantém "completa confiança" no secretário-geral.