Título: BC é incompetente e insensível, diz a Fiesp
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2005, Economia, p. B3

Entidade divulga estudo que contesta a eficácia da política de juros elevados

Depois de ter evitado se manifestar sobre a sétima alta consecutiva da Selic, na semana passada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) voltou ontem a criticar o Banco Central (BC). A entidade apresentou um estudo intitulado "Balanço de sete meses da alta da taxa Selic", no qual rebate os argumentos da autoridade monetária para elevar a taxa básica de juros. O diretor do Departamento de Economia da entidade, Paulo Francini, chegou a classificar o BC de "incompetente e insensível", alegando que as altas consecutivas dos juros desde setembro do ano passado não alcançaram seus objetivos, de reduzir o crédito para controlar a demanda, de forma a atingir a meta da inflação. "A inflação não estava fora de controle e os juros se comportam como um antibiótico que não funciona mais", argumentou. Francini disse não saber qual alternativa à alta dos juros poderia ser tomada para se atingir a meta de 5,1% de inflação em 2005.

A Fiesp considera ambiciosa a meta de 5,1% e defende que os preços administrados, responsáveis por 41% da inflação no período janeiro de 2004 a fevereiro de 2005, não sofrem o impacto da política monetária. Além disso, a alta dos preços livres no ano passado (6,5%) foi muito inferior à dos preços monitorados (10,2%). "Não havia pressão dos preços livres. Faltou sensibilidade ao BC para perceber isso", disse.

Em relação ao crédito, foco principal da política do BC, segundo a Fiesp, o estudo mostra que as altas da Selic foram inócuas: "o crédito total ao setor privado praticamente manteve sua taxa de expansão, de 1,5% ao mês, de janeiro a setembro de 2004, passando para 1,48% ao mês, de setembro de 2004 a janeiro de 2005".

A Fiesp sustenta que o valor dos financiamentos à pessoa física chegou inclusive a crescer em velocidade maior do que vinha registrando até setembro de 2004. Passou de um ritmo de 2,49% para 2,57% na mesma base de comparação. Mesmo o financiamento a pessoas jurídicas continuou aumentando no período, embora em menor velocidade: de 1,28% ao mês para 1,09%. "Desacelerou, mas continua em forte expansão."

O estudo mostra que entre julho e setembro de 2004, os preços livres no IPCA já tinham convergido para a média de 0,47% ao mês (média desde janeiro de 1999). A melhora do emprego, outro argumento a favor da alta dos juros por seu eventual aumento na demanda, não significou ingresso de trabalhadores no mercado, mas só o incremento no número de empregados com carteira assinada.