Título: Piora a qualidade da água nas praias de São Paulo
Autor: Maurício Businari, Claudia Ferraz
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Vida &, p. A16

Os indices de balneabilidade das praias do litoral paulista pioraram em 2004, em comparação com o ano anterior. Apenas 32% das praias permaneceram próprias para banho durante todo este ano, ante 48% em 2003. A Cetesb, que divulgou ontem um relatório detalhado sobre as águas litorâneas do Estado, disse que o problema vem sendo causado pela coleta ineficiente de esgotos na região e alertou para o surgimento no mar de microalgas potencialmente nocivas à saúde. A descoberta vem acompanhada de outra, que explicaria o surgimento das algas e tem a ver com os rios que deságuam no mar. Após coletarem amostras em 37 pontos de 9 municípios do litoral, os técnicos da Cetesb detectaram a presença de fósforo e nitrogênio em quantidades acima dos padrões aceitáveis. Esses elementos estão associados diretamente ao aumento da carga de esgoto doméstico, o que contribui para o crescimento acelerado e desordenado das algas.

"Encontramos dois tipos de dinoflagelados (espécies de fitoplânctons) potencialmente nocivos em praias do litoral norte ao litoral sul", explicou a gerente do Setor de Águas Litorâneas da Cetesb, Cláudia Lamparelli. "Curiosamente, quanto mais ao sul direcionamos a pesquisa, maior a concentração dessas algas", afirmou, lembrando que os estudos são sendo feitos em parceria com a Universidade de Taubaté (Unitau), no interior do Estado.

Os dinoflagelados constituem um elemento significativo do plâncton marinho, incluindo certas formas luminescentes e algumas contêm um pigmento avermelhado. Elas secretam uma potente toxina e são responsáveis pelas marés vermelhas, que causam a morte de milhões de peixes e moluscos e podem atingir, indiretamente, o homem ao ingerir água ou alimentar-se dos organismos afetados.

A Cetesb apresentou também um estudo sobre a quantidade de coliformes fecais encontrada nos 600 cursos de água que seguem para o mar. No litoral norte, 77% das amostras mantiveram níveis acima dos padrões. As áreas mais comprometidas estão na região central da Baixada Santista, principalmente em Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande e Mongaguá.

Comparando os dados de 2004 com os de 2003, houve aumento de 45% para 60% de praias consideradas de qualidade regular e o decréscimo de 15% para 6% de praias consideradas de qualidade ótima, enquanto o número de praias com qualidade ruim se manteve estável.

De acordo com os especialistas da agência ambiental, além dos esgotos domésticos, as chuvas dos dois últimos anos, carregando a matéria orgânica acumulada nos rios e canais, contribuíram de forma significativa para a piora da qualidade das águas das praias, em 2004.

O presidente da Cetesb, Rubens Lara, disse que o órgão vem ampliando os estudos e informações ambientais referentes à qualidade das águas litorâneas, tratando o meio marinho e as áreas costeiras de forma integrada. "Isso é necessário diante do aumento populacional, especialmente na temporada de verão, e da insuficiência de saneamento básico e de infra-estrutura geral na maior parte dos municípios litorâneos, ao lado de atividades impactantes como as do porto e de prospecção de petróleo", explicou. Apesar da ampliação das análises, o órgão ainda não estuda e nem leva em consideração o impacto dos efluentes industriais.