Título: BC eleva projeção de inflação a 5,5%
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Economia, p. B1

A política de juros altos do governo já está afetando o crescimento econômico, mas ainda não conseguiu deixar a inflação no nível desejado pelo Banco Central (BC). No último relatório trimestral de inflação, divulgado ontem, os diretores do BC elevaram de 5,3% para 5,5% a projeção para o IPCA (índice de preços que é referência para a equipe econômica) neste ano. Esse índice, que considera juros em 19,25% ao ano até dezembro e taxa de câmbio a R$ 2,70, é maior do que os 5,1% fixados como alvo pelo BC. Quando se leva em conta a média das estimativas do mercado para juros e câmbio, que chega a 17,42% ao ano e R$ 2,78, respectivamente, a inflação é ainda maior, 6,1%, e se aproxima do teto da meta do ano, que é de 7%. Enquanto isso, a projeção de crescimento da economia para 2005 está abaixo dos 5,2% de 2004: 4%. Essa estimativa é a mesma do relatório divulgado em dezembro do ano passado, quando o BC já previa os impactos do processo de elevação dos juros iniciado em setembro sobre o nível de atividade e a menor participação do setor agrícola no crescimento.

Ao mesmo tempo em que projetam uma inflação maior, os diretores do BC também ressaltam a avaliação feita na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de que eles já estão mais confortáveis com a trajetória de inflação para o ano. Essa atitude sinalizou para o mercado que o processo de alta da taxa de juros chegou ao fim e também que o BC já teria abandonado a meta de 5,1% para o ano. Porém, não se espera que o governo admita agora o abandono da meta porque fazer isso no início do ano poderia deteriorar ainda mais as expectativas em relação à inflação.

"A meta continua a ser os 5,1%", disse o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Beviláqua. Segundo ele, embora a inflação ainda esteja elevada e haja riscos para a trajetória futura, as informações mais recentes mostram que a pressão sobre os preços no atacado está diminuindo e o quadro começa a se reverter.

"Esses dados elevam a possibilidade de convergência da inflação para a meta", destacou Beviláqua. Segundo ele, a elevação da projeção para o ano ocorreu em razão de o IPCA dos primeiros meses de 2005 ter sido alto. No relatório de dezembro, o BC estimativa que a inflação no primeiro trimestre do ano ficaria em 1,55% e foi de 1,78%. "No curto prazo, ainda há pressão por causa de reajustes de preços administrados", disse o diretor, ressaltando que o objetivo do BC é evitar que essas pressões comprometam a inflação no longo prazo.

Questionado se isso não significaria que a meta para 2005 já estaria comprometida, enquanto a de 2006 ainda está abaixo dos 4,5%, Beviláqua disse que o aperto nos juros iniciado em setembro ainda não surtiu impacto integral na economia e "ainda há tempo para a política monetária fazer efeito".

CENÁRIO EXTERNO

Os maiores riscos para a inflação estão no cenário internacional. Além do aumento dos juros nos Estados Unidos, que pode elevar a taxa de câmbio com repercussão nos preços, a alta do preço do petróleo e das commodities agrícolas no mercado internacional são as ameaças mais fortes. Em compensação, segundo Beviláqua, alguns eventos ocorridos no País permitiram melhorar o quadro para amenizar impactos sobre os preços, como é o caso da elevação na taxa de investimento.

Porém, de acordo com o diretor do BC, mesmo num cenário mais pessimista, que ele não acredita que ocorrerá, o Brasil tem condições de reagir melhor do que no passado.