Título: Programas sociais na AL não chegam aos pobres, diz Singh
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Economia, p. B3

O diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Anoop Singh, reiterou ontem os elogios ao desempenho da economia brasileira, que permitiu ao País não renovar o acordo com a instituição, e disse que "não há necessariamente inconsistência entre políticas de estabilidade econômica e boas políticas sociais". Falando a um grupo reunido pelo Diálogo Interamericano para discutir um estudo do FMI sobre estabilização e reforma da América Latina desde o início da década passada, Singh assinalou que estudos de casos da região mostram que "o problema é que muitos se beneficiam dos programas, mas não os pobres".

Para ele, um dos desafios para preservar a estabilidade é aprofundar as reformas - leis trabalhistas, Previdência, setor financeiro, regimes comerciais fechados - para fazer com quem os benefícios do crescimento cheguem aos pobres.

Singh respondia, de forma diplomática e sem citar o Brasil, a uma pergunta do Estado sobre a declaração feita na segunda-feira pelo presidente da CUT, Luiz Marinho, segundo a qual a decisão do governo brasileiro de não renovar o acordo com o FMI abriu o caminho para um "realinhamento com os compromissos históricos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os movimentos sociais, porque sempre tivemos ojeriza às práticas do FMI".

Indagado sobre os efeitos potencialmente negativos de gastos desnecessários dos novos dirigentes da Câmara de Deputados, no momento em que uma revolta contra novos aumentos de impostos limita as opções do governo para perseverar na dura política fiscal, o dirigente do FMI elogiou as equipes econômicas de vários países do hemisfério, mas disse que as políticas que promovem a estabilidade nem sempre são bem compreendidas nos Parlamentos da região.

"A questão é como convencer os Congressos", disse Singh. "Precisamos trabalhar mais nisso, desenvolver, no Fundo, mais diálogo com os parlamentares, pois, a menos que isso seja feito, será difícil evitar a repetição de erros".

O interesse do Fundo em explorar oportunidades para incluir congressistas entre seus interlocutores nos vários países em que atua nasceu com a chegada de Rodrigo de Rato à direção geral do FMI, segundo fontes da instituição. "Rato compreende bem isso porque foi ministro das Finanças da Espanha, um país de regime parlamentarista, mas o FMI toma cuidado nessa área porque sua relação oficial é necessariamente com o Executivo".

Com o cenário externo favorável, o diretor do FMI deixou claro que o maior risco para a região são os processos políticos internos. "Um risco talvez maior deriva do fato de que até o fim do ano que vem 17 países da região terão eleições (presidenciais)", disse Anoop, revelando temor de que os objetivos políticos colidam com a disciplina fiscal.