Título: Juros de financiamentos da casa própria começam a cair
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Economia, p. B6

Enquanto a taxa Selic não pára de subir, alguns bancos começam a reduzir os juros cobrados nos financiamentos para a compra da casa própria. Depois da Nossa Caixa, que há duas semanas anunciou corte nas taxas, o HSBC também decidiu diminuir os juros de suas carteiras de crédito imobiliário para aquisição de imóveis novos. A redução chega a dois pontos porcentuais nos empréstimos de até R$ 100 mil do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), cuja taxa padrão de 12% caiu para 10% ao ano. Na faixa entre R$ 100 mil e R$ 150 mil, os juros caíram de 12% para 11%. Já nos financiamentos acima de R$ 150 mil os consumidores continuarão pagando taxa de 12% ao ano. "Estamos em linha com o governo para atender a uma classe mais baixa", afirmou o diretor de Crédito Imobiliário do HSBC, Roberto Sampaio. Segundo ele, a redução foi possibilitada pelas novas regras definidas pelo governo no início do ano, que incentivam o corte dos juros.

Mas as taxas da Carteira Hipotecária para aquisição de imóveis de alto padrão, com valor acima de R$ 350 mil, também foram alteradas: de 13,8% para 13%. No HSBC, a expectativa é dobrar o volume de operações realizadas mensalmente até o final do ano. Com isso, a carteira de crédito imobiliário da instituição saltaria de R$ 450 milhões para R$ 500 milhões.

No caso da Nossa Caixa, a redução foi de três pontos porcentuais para crédito de até R$ 40 mil no SFH, cuja taxa caiu de 12% para 9% ao ano. Os financiamentos entre R$ 40 mil e R$ 80 mil têm juros de 10% e de R$ 80 mil a R$ 120 mil, 11%. Já na Carteira Hipotecária a taxa recuou de 16% para 15%, para clientes da instituição, e de 15% para 14%, no caso de funcionários públicos.

Com as reduções, os dois bancos esperam elevar suas bases de clientes. Isso porque o financiamento imobiliário é considerado um importante produto para fidelização desses consumidores, já que se trata de empréstimos de longo prazo, de 15 e 20 anos.

Na avaliação de analistas, a estratégia dos dois bancos poderá desencadear uma onda de novos cortes em outras instituições para fazer frente à concorrência. Mas o presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Décio Tenerello, alerta que, com o atual patamar da taxa Selic, que neste mês subiu pela sétima vez consecutiva (para 19,25%), a redução dos juros fica mais complicada. Por isso, dependerá da política de crédito de cada instituição.

Apesar da Selic alta, que tende a trazer insegurança para o tomador do financiamento, o setor de crédito imobiliário teve um começo de ano bastante positivo. Nos dois primeiros meses do ano, os bancos destinaram R$ 515,66 milhões para essa carteira - volume 51,5% superior ao de igual período do ano passado, segundo dados da Abecip.

Para Tenerello, o resultado é um reflexo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), melhora do nível de emprego e aumento da massa salarial. Apesar de não esperar um desempenho similar nos próximos meses, ele projeta um crescimento de 30% na carteira de crédito imobiliário para este ano. "Trabalhamos com a expectativa de que as taxas básica de juros comece a recuar a partir de agosto ou setembro."