Título: Paraguai faz bloqueio e expulsa 150 brasileiros sem documentos
Autor: Sônia Inês Vendrame
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2005, Cidades, p. C6

Os brasileiros que tentaram entrar ontem em Ciudad del Este - na fronteira entre o Brasil e o Paraguai - sem identidade foram expulsos. Até o fim da manhã, pelo menos 150 pessoas tiveram de retornar ao Brasil. Nas lojas, o clima ficou tenso com a presença dos agentes de imigração. Eles procuravam por trabalhadores ilegais. O cerco começou às 5 horas - horário de Brasília. A Polícia Nacional e a Marinha reforçaram a segurança para impedir reações, mesmo assim um paraguaio que transportava brasileiros tentou fugir. Na fuga, ele feriu um agente, foi preso e levado para uma delegacia policial. O alvo da operação de ontem foram carros, vans e, principalmente, motos, por serem as preferidas dos trabalhadores que cruzam a fronteira todos os dias. "Se não morar no Paraguai, não pode trabalhar", avisou o diretor-geral de Migrações, Carlos Liseras. Integravam a equipe 20 agentes, entre representantes do Ministério do Trabalho e do Instituto de Previdência Social. Os proprietários das lojas estão sendo investigados. Quem não possuir documento de imigração e morar no país vizinho também será expulso. "Tem de possuir carteira de imigrante e viver aqui. Do contrário, o tratamento será o mesmo."

O Departamento de Migrações estima que 7 mil brasileiros trabalhem ilegalmente no comércio. Somados aos comerciantes, o número salta para 10 mil. "Eles têm 60 dias para legalizar a situação", estimou Liseras. A partir daí, o tratamento será o da deportação. Liseras negou que a ação seja uma retaliação ao Brasil, que há quatro meses intensificou o combate ao contrabando entre os dois países, reduzindo o movimento do maior centro comercial aberto da América Latina em 80%.

"É uma decisão do nosso país, que também começou a combater com mais eficácia o contrabando. O Paraguai nunca comungou com esse estado de coisas", afirmou Liseras. Nas abordagens, os fiscais recolheram inúmeros documentos - na maioria carteiras de identidade e de imigração falsas. Eles eram usados por brasileiros para tentar burlar o processo de identificação e expulsão. "É mais grave do que estar ilegal. É uma tentativa de fraudar o país."

O governo paraguaio abriu 300 processos contra empresários que contratam brasileiros sem documentação e anunciou que as operações de fiscalização vão se estender a centenas de estabelecimentos comerciais. "O Brasil possui sérios problemas com o contrabando e produtos falsificados, mas o percentual que ingressa por Ciudad del Este é ínfimo, se comparado com o que entra pelos portos brasileiros", afirmou Carlos Walde, assessor da área econômica do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte.

BLITZ

A revista às lojas começou por volta das 10h30. A primeira a ser "visitada" foi um shopping especializado em jogos eletrônicos, com mais de 300 lojas. "Não adianta vir aqui. A única brasileira que tínhamos tivemos de dispensar", disse o proprietário, Ali Chamas. Mesmo com a explicação, os fiscais exigiram a presença de todos os funcionários no balcão. Cada um teve de apresentar a identidade. No fim, o comerciante assinou um documento se responsabilizando pela veracidade das informações.

O prazo de 60 dias para que os brasileiros passem a morar no Paraguai para poder trabalhar foi considerado insignificante. Com: AFP