Título: Para ex-embaixadora, visita é um 'bom sinal'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Nacional, p. A4

A ex-embaixadora dos EUA no Brasil Donna Hrinak acha "muito importante" a visita de Condoleezza Rice ao Brasil. "Apesar de todos os seus méritos, o fato é que Colin Powell esperou até suas últimas semana no governo para visitar o Brasil. A decisão de Condoleezza de ir nos primeiros meses de sua gestão é forte sinal de seu desejo de engajar Brasília num diálogo mais profundo", disse Donna, uma simpatizante do Partido Democrata que ajudou a pavimentar o bom relacionamento entre os governos Lula e Bush, a despeito de suas diferenças ideológicas. "Talvez ela compreenda melhor a posição que ouvi de altos funcionários do governo Lula, de que Brasil e EUA têm os mesmos objetivos, que as diferenças são só de tática e Washington deve entender que nem sempre as coisas, sobretudo nos temas hemisféricos, são feitas da forma como os americanos gostariam, mas o destino a que querem chegar é o mesmo."

Como sua principal conselheira em questões diplomáticas, Condoleezza compreende bem a disposição favorável do presidente americano a Lula. O senador democrata Christopher Dodd, especialista em América Latina, saiu de recente jantar com Bush, na Casa Branca, impressionado com sua simpatia pelo colega brasileiro. "Ele não perdeu uma oportunidade para falar bem do Lula", contou. "Ficou claro, também, que ele não pode ouvir falar o nome do (presidente da Venezuela, Hugo) Chávez."

A decisão de Chávez de encerrar o programa de cooperação militar com os EUA e expulsar conselheiros americanos do país esquentou tópico que já estava no topo da agenda da secretária de Estado. Segundo Donna, que foi embaixadora do governo Clinton em Caracas, Condoleezza reiterará a importância e a responsabilidade que o Brasil tem de agir para garantir "que a Venezuela se mantenha num regime democrático".

Uma questão que desperta interesse da comitiva de Condoleezza é a reação que sua presença de afrodescendente, no comando da mais poderosa diplomacia do mundo, provocará em Brasília.

A cúpula América do Sul-Países Árabes também está na agenda. "Esta é uma ilustração clara da distância que existe na política externa brasileira entre as ambições e os interesses do País", disse ao Estado um alto funcionário que ajudou a preparar a visita de Condoleezza. Ela deve repetir a Lula o que já disse ao ministro da Casa Civil, José Dirceu: que espera que o governo use o encontro para sugerir aos líderes árabes que se inspirem no exemplo da América Latina como região comprometida com a democratização e reformas econômicas. "Mas em Washington, prevalece o temor de que o evento se transforme num festival de críticas aos EUA", contou Donna. Um alto funcionário do governo disse ao Estado que as garantias dadas por Brasília, de que os documentos da conferência refletirão a linguagem de acordos internacionais, não reduziu a ansiedade. "Ficamos até mais preocupados depois de ouvir isso."