Título: Governo pede apoio de empresários para ação publicitária
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Nacional, p. A5

Oposição atacará 'presidente marqueteiro Idéia apresentada ontem por Gushiken é uma segunda etapa de "O Melhor do Brasil é o Brasileiro", no ar desde julho do ano passado

Um ano e meio antes da eleição presidencial de 2006, a oposição já se prepara para carimbar o presidente Lula como "marqueteiro". No Congresso, PSDB e do PFL criticam a falta de agenda política e cobram cada vez mais resultados na área social. Agora, até mesmo a operação espetacular para trazer ao Brasil o presidente deposto do Equador, Lucio Gutiérrez, entrou no bombardeio oposicionista. "A ordem é bater em Lula", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio. "Não adianta bater no Palocci porque isso só vai tirar votos quando ele for candidato a prefeito de Ribeirão Preto", ironizou. Para o senador José Agripino (RN), líder do PFL, "este é o governo do marketing". "Manda avião buscar presidente do Equador, faz périplo pela África, mas não cumpre promessas de primeiro emprego e farmácia popular." Mariana Caetano Ao mesmo tempo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobra de seus ministros da área social esforço redobrado na divulgação de seus resultados positivos, o governo articula o lançamento de nova campanha publicitária voltada para a auto-estima do brasileiro, agora com fins educativos. Em palestra para 150 empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), o secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, pediu ontem adesões para uma segunda etapa da campanha "O melhor do Brasil é o Brasileiro", no ar desde julho. A idéia é lançar, até junho, um novo slogan - "Um bom exemplo, tudo começa por aí", numa espécie de Parceria Público Privada (PPP) de comunicação. O ministro negou que haja ligação entre a campanha e o apelo para que seus colegas façam mais propaganda de seus programas, mas o fato é que Lula, como revelou o Estado ontem, aposta na ofensiva de boas notícias oficiais para reverter a agenda negativa no País. A lista de dores de cabeça é longa. Inclui as denúncias contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a falta de apoio no Congresso, o novo aumento de juros...

Preocupado com seu desempenho na corrida eleitoral em 2006, Lula teme o que chamou de "efeito Marta". Acredita que a ex-prefeita Marta Suplicy perdeu a reeleição em São Paulo porque divulgou mal suas ações sociais. "Efeito Marta? O que é isso?", desconversou Gushiken. "O que o presidente pediu aos ministros da área social é que de fato difundissem as informações em escala mais ampliada", explicou, pouco antes, o ministro. Segundo ele, há realizações positivas a serem exploradas, por exemplo, no Fome Zero, no programa de agricultura familiar, na área educacional.

A despesa do governo com propaganda não vai mudar, insistiu. "Os ministros vão dar mais entrevista, falar mais com a imprensa, coisa que o político no Poder Executivo às vezes fica restrito", afirmou Gushiken. Novas levas de comerciais voltados para a área social serão lançadas logo - "tem coisa todos os dias", disse ele - mas o próprio ministro tratou de dar exemplo aos colegas ontem.

Atendeu a imprensa, sorridente, por meia hora. A seu pedido, porém, os jornalistas não puderam assistir à palestra-almoço em que pediu adesão para a campanha "Um bom exemplo - Tudo Começa por aí". Antes, ele fez a defesa dos gastos públicos e da carga tributária, apontada pelos empresários como maior entrave para o crescimento dos negócios.

PESQUISA

Durante o encontro, foi divulgada uma pesquisa feita entre os integrantes do Lide, que deu nota 3,5 para a eficiência gerencial do governo. Gushiken também ouviu de um dos empresários reunidos no Hotel Grand Hyatt que fizesse uma campanha entre todos os servidores públicos sobre como atender melhor a população. O ministro disse que a nova campanha poderia incluir sim os servidores.

DETALHES

O slogan da campanha ainda pode mudar, mas o mote será mesmo exemplos a serem seguidos, contou Gushiken. Ele destacou que o governo será só um coadjuvante - os responsáveis são a Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap), Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) e Associação Brasileira de Publicidade (ABP) -, encarregado de buscar empresas interessadas em financiar o projeto. Na primeira fase, a campanha "O melhor do Brasil...", com o mote "Sou brasileiro, não desisto nunca" veiculou o equivalente a R$ 100 milhões em espaço de mídia cedido gratuitamente. Segundo Maurício Machado, da Associação Brasileira de Anunciantes, mais de 300 empresas aderiram ao projeto.

O novo pacote deve divulgar "bons exemplos" nas áreas de saúde, educação, meio ambiente e segurança no trânsito. "Se focarmos no exemplo, estimulando as crianças a lerem, pode ser que a gente produza uma excelente campanha", disse Gushiken. "Trata-se do interesse público." Empresas de áreas correlatas podem se beneficiar diretamente com a campanha, afirmou. Daí o esforço para que financiem o projeto.