Título: Povo 'não tira traseiro da cadeira' contra juro, diz Lula
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Nacional, p. A6

Ao sancionar lei sobre microcrédito, o presidente criticou o comodismo do brasileiro e assegurou que seu governo está transferindo renda no País Ao sancionar a lei que cria o Programa Nacional do Microcrédito Orientado, que oferece à população de baixa renda empréstimos mais baratos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o "comodismo" da população em geral e da classe média, em particular, que "é incapaz de levantar o traseiro e ir ao banco mudar sua conta para um banco mais barato". Em discurso de improviso, o presidente lembrou a política social do Planalto, assegurando que o seu governo está promovendo transferência de renda. "É por isso que eu digo todo o santo dia: estamos transformando o Brasil, que é um país capitalista, num país com capital na mão do povo, ou seja, com um pouco de dinheiro."

Lula falou da dificuldade em mudar a mentalidade dos bancos para empréstimos à população pobre e anunciou que o novo programa de microcrédito terá recursos de R$ 600 milhões, podendo chegar a R$ 1 bilhão. O Programa Nacional de Microcrédito prevê a concessão de empréstimos de até R$ 5 mil. A taxa de juros será de no máximo 4% ao mês.

Lula também salientou a dificuldade de as pessoas acreditarem que podem ter empréstimos mais baratos. Por isso, de acordo com o presidente, é preciso "fazer propaganda destes empréstimos e ajudar na criação de cooperativas".

Em seguida, Lula aproveitou para fazer novas críticas ao governo passado, alegando que na época o valor disponível para empréstimos era de R$ 33 milhões, contra os atuais R$ 600 milhões.

O presidente atacou, mais uma vez, os grandes devedores, que apresentam muitos papéis como garantia e, nem sempre, pagam suas dívidas. "Quando é para emprestar dinheiro para quem tem muito, a gente exige uma quantidade enorme de papel e, nem sempre, nos bancos públicos, os papéis valeram a pena pois estamos cheios de exemplos na história do Brasil de dinheiro emprestado por banco público", comentou o presidente ao citar o Banespa e quase todos os bancos estaduais "que quebraram".

O presidente comemorou o fato de seu governo ter conseguido reduzir os juros para empréstimos e que os bancos oficiais, como Banco do Brasil, estarem emprestando aos aposentados a 1,5%.

Lula passou, então, a criticar o comodismo da população. "Se as pessoas tivessem consciência, não pagariam 8% de juros ao mês, até porque não é pobre que tem cartão de crédito é uma classe mais sabida intelectualmente, de maior posse", comentou o presidente acrescentando que "mesmo assim, xinga de noite e de dia se conforma com o juros".

Ainda sobre o comodismo em procurar crédito mais barato, Lula desabafou: "Às vezes o cara está no bar, tomando um chope, xingando o banco, os juros, o cartão de crédito, mas no dia seguinte é incapaz de levantar o traseiro da cadeira e ir no banco mudar ou ir no computador e fazer transferência da conta para um banco mais barato".