Título: Corrupção endêmica assola o Brasil, diz FT
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Nacional, p. A6

Jornal britânico destaca caso Jucá e afirma que corruptos dormem tranqüilos no País

O jornal britânico Financial Times publicou ontem reportagem em que diz que a corrupção endêmica voltou a ser notícia no Brasil. O correspondente em São Paulo do prestigioso jornal econômico, Jonathan Wheatley, destaca que desta vez as acusações pesam sobre "Romero Jucá, o ministro da Previdência, acusado de obter fraudulentamente empréstimos subsidiados e de se apropriar de verbas públicas". O jornalista monta a reportagem em cima de uma declaração dada recentemente a jornalistas por Jucá sobre o assunto: "Isso não me perturba. Estou dormindo tranqüilo", disse Jucá. Wheatley escreve que "nada foi provado contra Jucá e sua atitude pode bem ser reflexo de inocência". Mas, ressalva, "inocentes ou culpados, tais alegações contra ricos e poderosos no Brasil raramente os deixam preocupados. Corrupção é fato do cotidiano e chances de se ser punido por isso são próximas a zero".

O Financial traz dados da Controladoria-Geral da União (CGU), dos dois últimos anos, que mostram que, em auditorias realizadas aleatoriamente em 741 dos 5.500 municípios brasileiros, foram descobertas irregularidades graves em 90% deles e alguma irregularidade em todos. O presidente da CGU, Waldir Pires, prossegue o jornal, afirma que "mais de 20% dos gastos públicos são perdidos para a corrupção", ou seja, R$ 18 bilhões em 2004 se se considerarem tão-somente transferências feitas do governo federal a Estados e municípios.

O Financial também consultou a Transparência Brasil, em São Paulo, que é a representação da Transparência Internacional, um órgão fiscalizador da corrupção. Cláudio Abramo, da Transparência, contou ao jornal de uma pesquisa que fez em São Paulo a pedido da Prefeitura, com verbas do Banco Mundial. O órgão descobriu desvio sistemático de dinheiro público, mas a Prefeitura resolveu engavetar a pesquisa. "Fazer algo significaria desagradar a interesses inumeráveis", explicou Abramo ao jornal britânico.

De fato, afirma o Financial, "'Rouba, mas faz' é termo que expressa aprovação e é aplicado a vários dos mais bem-sucedidos políticos populistas do Brasil". O problema, argumenta, estaria no sistema judicial e na possibilidade quase ilimitada de apelações. "Poucos réus têm algo a temer", escreve Wheatley, que, no entanto, vê motivo para otimismo com a reforma do Judiciário e criação de órgãos externos para fiscalizar a Justiça.

O Financial, por fim, destaca que "nem todo mundo sai impune" nos casos de corrupção do País. E lembra o caso do juiz Nicolau dos Santos, "condenado em 2001 por ter roubado R$ 169,5 milhões na construção do prédio de tribunal". A reportagem afirma que, desde então, forças-tarefa de promotores trabalham em casos de corrupção e de lavagem de dinheiro com sucesso e que os esforços da CGU causam barulho. E conclui: "Um alarme pode estar soando para corruptos no Brasil. Mas, por ora, a maioria deles dorme tranqüilamente."