Título: País será peso pesado em 10 anos, diz FMI
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Economia, p. B3

Para técnico do Fundo, Brasil deixará de ser considerado o eterno país do amanhã

O Brasil se transformará em peso pesado da economia entre os próximos 5 a 10 anos, com crescimento anual sustentado de 3% a 4%, afirmou Charles Collyns, subdiretor do departamento da América Latina e chefe das missões do Fundo Monetário Internacional (FMI) que estiveram no País para monitorar o último acordo entre o governo brasileiro e o Fundo. A declaração foi feita em entrevista à publicação do Fundo, IMF Survey, distribuída ontem. "O Brasil tem sido chamado há muito tempo de o país do amanhã, numa insinuação de que nunca alcançará seu potencial total. Tenho esperança de que isso não seja mais verdade", disse Collyns. "Sou otimista (e acho) que o Brasil poderá crescer rapidamente, enfrentar seus problemas de pobreza e desigualdade e se transformar em um ator principal da economia mundial nos próximos 5 a 10 anos."

Segundo o FMI, o Brasil deve crescer 3,7% em termos reais (descontada a inflação) este ano e 3,5% em 2006, ante 5,2% de 2004. David Owen, outro membro das delegações do Fundo ao Brasil, previu na mesma entrevista uma queda contínua da relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB), o que deve reduzir os juros que o mercado exige para adquirir títulos do País.

"Uma política fiscal robusta tornou sustentável a dinâmica da dívida", afirmou.

Mesmo assim, Owen lembrou que parte dos títulos continua atrelada às taxas de juros a curto prazo, o que torna essa parcela muito sensível às mudanças de política monetária.

Apesar de elogiar os resultados orçamentários do Brasil, Owen disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva os obteve "principalmente" graças a um aumento da arrecadação.

"Existe um consenso crescente no País de que a carga tributária é atualmente elevada, portanto é absolutamente estratégico buscar formas de controlar as despesas", observou Owen.

O funcionário do FMI reconheceu melhoras, mas disse que o orçamento deve ser mais bem usado e que mais verbas devem ser dedicadas à infra-estrutura e à despesa social.

PROBLEMAS

Collyns também recomendou uma reforma trabalhista que estimule a contratação e reduza a economia informal, que atualmente ocupa a metade da força de trabalho do País.

Essa situação provoca males como uma diminuição da base tributária e a falta de incentivos para que as empresas capacitem seus trabalhadores. Além disso, os trabalhadores sem contrato formal não são protegidos pelas leis trabalhistas, disse o subdiretor do departamento da América Latina do FMI.

Apesar desses problemas, o organismo acha que o Brasil rompeu o ciclo de crescimento alto e recessão que caracterizou durante muito tempo sua história econômica, pois obteve melhoras em sua estrutura produtiva.

Owen destacou como características novas o alto nível das exportações brasileiras e "o efeito acumulado das reformas estruturais", que estimulou uma recuperação "robusta" do investimento.

Collyns fez vários elogios à política monetária do País e disse que a disposição do Banco Central (BC) de aumentar a taxa básica de juros para conter a inflação "ajudou a estabelecer a credibilidade".

Por isso, ele concluiu que se o governo continuar com seu plano de reformas, "as perspectivas para o Brasil são extremamente boas".