Título: BNDES anuncia corte de spread
Autor: Irany TerezaJacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Economia, p. B4

Redução da taxa é a segunda do governo Lula e beneficiará financiamentos ao setor produtivo O presidente do BNDES, Guido Mantega, anuncia hoje oficialmente a segunda redução da taxa de remuneração (spread) cobrada pelo banco nos financiamentos ao setor produtivo no governo Lula. A primeira, em março de 2004, cortou o spread em 0,5 ponto porcentual, em média. Atualmente, a taxa cobrada fica entre 1% e 4,5% ao ano, sendo o spread médio entre 3% e 3,5%. A expectativa é de que a taxa baixe meio ponto, ficando entre 2,5% e 3% ao ano, mas a redução não será linear. Serão cortes diferenciados, seguindo critérios de prioridade, entre eles, a geração de empregos. Alguns setores sequer terão redução. Deve ser o caso da indústria farmacêutica, beneficiada no fim do ano passado com taxas menores, dentro do programa do governo de incentivo à política industrial.

Ao spread, o BNDES soma, nos empréstimos concedidos, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 9,75% ao ano, e motivo de intensa queda de braço entre a direção do banco e a equipe econômica do governo, especialmente os representantes do Tesouro. O banco defende a redução como forma de tornar viáveis os empréstimos e acelerar o crescimento econômico. Já há, no BNDES, preocupação quanto ao desembolso total dos R$ 60,4 bilhões disponíveis este ano. Em 2004, já haviam sobrado R$ 7 bilhões no caixa, por falta de demanda.

A equipe econômica teme os efeitos do corte na inflação. De qualquer forma, uma vitória do banco foi descolar a TJLP da Selic (taxa básica de juros). Desde setembro, quando foi iniciada a escalada dos juros, a taxa do BNDES mantém-se estável.

A redução de spread do BNDES será bem-vinda em qualquer porcentual, afirmou o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sergio Gomes de Almeida. Ele disse que a redução é possível porque a análise de projetos do BNDES "é muito bem feita", o que reduz os riscos.

Apesar de acreditar que o mais importante para baratear os investimentos via BNDES é a redução da TJLP, ele sublinhou que, caso a redução seja de 1 ponto, os juros reais do banco já estarão mais próximos da taxa considerada "ideal e competitiva com os países concorrentes", de 6% ao ano.

Atualmente, nas contas de Almeida, os juros reais do BNDES giram em torno de 9%. O argumento é que, mesmo que o spread seja de cerca de 3%, metade dos recursos de financiamento do banco são repassados pelos agentes financeiros, que têm spreads médios que podem chegar a 7%. Ou seja, o spread médio do BNDES, levando-se em conta também os agentes financeiros, estaria hoje em torno de 5%. Com a TJLP em 9,75%, a taxa de financiamento do banco está, portanto, em torno de 15% ao ano, diz o Iedi.

Projetando um IPCA de 6% em 2005, os juros reais do BNDES atingem, neste ano, 9%. "É uma taxa um pouco salgada e a redução do spread pode torná-la mais próxima dos nossos concorrentes", avalia Almeida.

Em março de 2004, mudanças na cobrança do spread fizeram cair a taxa para empresas com capital integralmente nacional, enquanto as companhias ligadas ao capital estrangeiro permaneceram num nível mais alto. A explicação do banco, então presidido por Carlos Lessa, era de que havia necessidade de facilitar o acesso ao crédito das companhias nacionais, que não contavam com tantas facilidades quanto as estrangeiras em captações internacionais.

Ao assumir a presidência, no final do ano passado, Mantega determinou que cada diretoria fizesse um estudo sobre os financiamentos em sua área. Os estudos foram confrontados este mês e compilados pelo diretor de Planejamento, Antonio Barros de Castro, que apresentou o resultado a Mantega.