Título: Camex define estratégia para negociações comerciais e exclui Alca
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Economia, p. B6

O governo brasileiro definiu ontem sua estratégia para as próximas rodadas de negociações comerciais internacionais, deixando de lado a discussão sobre a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Em reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ficou decidido que o Brasil fará uma nova tentativa para reabrir as negociações comerciais entre o Mercosul e a União Européia, e insistirá, na Organização Mundial do Comércio (OMC), na redução das barreiras aos produtos agrícolas, impostas por europeus e americanos. A Alca não foi discutida. Segundo o secretário-executivo da Camex, Mário Mugnaini, o Brasil vai propor aos parceiros do Mercosul que atendam ao pedido dos europeus e ponham no papel as ofertas verbais nas negociações anteriores com a União Européia. O mesmo seria feito pelos europeus. Nenhum dos dois documentos seria considerado uma oferta formal, segundo o secretário. "É uma forma de enxergar o que é uma oferta", comentou Mugnaini. Em troca, os europeus teriam de aceitar a realização de uma reunião ministerial, considerada fundamental pelo governo brasileiro para relançar as negociações.

Já nas negociações da Rodada Doha, que serão realizadas em junho, o Brasil reforçará seu pedido para que Estados Unidos e UE reduzam as barreiras tarifárias aos produtos agrícolas brasileiros. Mas, segundo Mugnaini, o governo não quer simplesmente uma diminuição das tarifas básicas de importação (ad valorem), mas também das taxas específicas que são cobradas adicionalmente na importação de diversos produtos. Muitas vezes as taxas adicionais são maiores que as taxas básicas, e se a redução incidir apenas sobre a primeira não trará benefícios ao Brasil. Em troca, Mugnaini afirmou que o País está disposto a apresentar ofertas de redução de suas tarifas em todas as áreas - agrícola, não agrícola e de serviços. "Não iremos apresentar ofertas na área industrial e de serviços se não tivermos uma contrapartida na área agrícola", afirmou.

Embora as negociações para criação da Alca tenham sido excluídas da pauta de discussão da Camex, Mugnaini afirmou que o governo brasileiro defende a continuidade das negociações comerciais entre Mercosul e Canadá. "Da mesma forma que seria interessante discutir um acordo 4 mais 1 (Mercosul e EUA) com os americanos, que têm mostrado resistência", disse o secretário.