Título: Brasil pode se abster em eleição para a OMC
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Economia, p. B7

Apesar de pretender ser um dos porta-vozes dos países emergentes em temas internacionais, o Brasil poderá deixar de indicar seu voto na segunda fase do processo de escolha do novo diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC). O segundo turno está ocorrendo nesta semana e deve estar concluído na sexta-feira. O cenário mais provável é que o Brasil, depois de ter seu candidato Luiz Felipe de Seixas Corrêa eliminado já na primeira etapa, não indique quem são seus nomes preferidos para o posto. O embaixador Piragibe Tarrago, diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, admite que o Brasil poderia deixar aos "demais países da OMC" a decisão sobre quem será o novo chefe da entidade. O processo de seleção do próximo diretor da OMC ocorre em etapas. A presidência do Conselho Geral da entidade realiza consultas com os países para saber quais as suas preferências entre os candidatos que se apresentaram para o posto. Com base nisso, a OMC anuncia quem é o candidato que mais apoio tem e quem é o candidato que, diante do fraco apoio, deve ser descartado da corrida.

Na primeira fase, o Brasil recebeu o menor número de apoios e, conseqüentemente, foi solicitado a retirar a candidatura. Ficaram no páreo o europeu Pascal Lamy, o uruguaio Carlos Perez del Castillo e o representante das Ilhas Maurício, Jaya Khrishna Cutaree. Segundo fontes em Genebra, a presidência do Conselho Geral da OMC deve divulgar até o fim desta semana quem será excluído da corrida e, portanto, quem serão os dois finalistas nas eleições.

Em Genebra, a missão do Brasil junto à OMC não recebeu nenhuma instrução de Brasília para pedir uma audiência na entidade para declarar seu voto. O problema para o governo é que tanto a candidatura de Castillo como a de Lamy foram atacadas pelo governo nos últimos meses. Seixas Correa, que tirou férias nesses dias após ser eliminado da corrida pela direção da OMC, havia sido apresentado como alternativa à candidatura de Castillo, considerado pelo Brasil como favorável aos pontos de vista dos Estados Unidos e Europa nas negociações da OMC em 2003.

O Uruguai garante que tem procurado o apoio do Brasil para seu candidato. Uma alta fonte de Montevidéu conta que, na semana passada, os uruguaios realizaram uma reunião em Genebra com os países latino-americanos para debater os apoios. "Temos o apoio de toda a região, salvo do Brasil", afirmou a fonte. Já a delegação do Brasil em Genebra alega que não foi sequer convidada para a reunião promovida pelo Uruguai.

Já os europeus alegam que o chanceler Celso Amorim teria falado ao telefone na semana passada com Lamy. O conteúdo da conversa, porém, não foi divulgado por Bruxelas.