Título: Espanha promete 'lulalizar' Chávez
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Internacional, p. A15

Os EUA se mostram céticos quanto à capacidade de países como a Espanha e o Brasil de influenciarem o presidente Hugo Chávez, evitando que o regime possa tomar rumos problemáticos. A afirmação foi feita pelo embaixador da Espanha em Washington , Carlos Westendorp, ao qual o governo dos Estados Unidos manifestou sua "viva preocupação" com a grande compra de armas, navios e aviões, por Chávez, em contrato com o Ministério da Defesa da Espanha. O valor dos negócios foi estimado em US$ 1,3 bilhão, numa operação tida como a mais importante da indústria militar espanhola. O embaixador da Espanha confirmou que tanto Washington como Madri têm um objetivo comum quanto a suas relações com a Venezuela - o de evitar que o regime venezuelano possa derivar para o autoritarismo. Mas para isso o diplomata acrescentou, em declarações publicadas ontem pelo diário El Pais: "Vamos tentar lulalizar Chávez, se for possível ."

O governo espanhol deu explicações a Washington sobre os contatos com Chávez e o interesse espanhol em chegar a "acordos simétricos" com outros países do continente, como Colômbia, por exemplo. Em suas explicações a Washington, Madri teria revelado que tomou as devidas precauções sobre o material militar vendido.

Apesar das repetidas manifestações americanas revelando sua crescente preocupação com a compra de armas pela Venezuela, os países europeus, entre eles Espanha, Rússia e França, continuam dispostos a aumentar sua cooperação econômica e comercial com esse país, nessa e outras áreas, especialmente no setor de petróleo e gás. Afinal, por causa dos elevados preços do petróleo, esse país encontra-se com o caixa cheio.

Há duas semanas, depois de ter se reunido com o presidente Vladimir Putin, em Moscou, onde também concluiu contratos na área de armamentos, Chávez passou por Paris, onde se reuniu com o presidente Jacques Chirac e anunciou a assinatura, com a empresa francesa Total, de um megacontrato para a exploração de gás na região amazônica da Venezuela.

O total dos contratos, de US$ 1,3 bilhão, pode estar aquém da realidade, pois o valor definitivo só poderá ser fixado quando as empresas envolvidas conhecerem todos os detalhes do material adquirido. Ao todo, um pacote do qual fazem parte oito unidades navais de patrulha costeira e oceânica, dez aviões de transporte C-295 e dois de patrulha marítima, C-235. O governo espanhol compara essa operação a uma anterior, com a Turquia, quando foram vendidos a esse país 52 aviões C-235.