Título: A polêmica das armas para Caracas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Internacional, p. A15

O presidente do conservador Partido Popular (PP), o principal de oposição na Espanha, Mariano Rajoy, qualificou ontem de um "erro monstruoso" a venda de armas espanholas à Venezuela, informou a mídia local. Segundo Rajoy, trata-se de "uma irresponsabilidade absoluta" do primeiro-ministro espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero. Ele disse que de nenhum modo o governo espanhol deveria vender armas ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. De acordo com o jornal espanhol El Mundo, a embaixada americana em Madri manifestou sua "preocupação" pela venda desse material à Venezuela.

Mas socialistas espanhóis disseram não entender as críticas dos conservadores, lembrando que a venda de armamentos criará mais empregos na Espanha.

Em contrato estimado em US$ 1,3 bilhão, a Espanha prevê vender à Venezuela quatro corvetas e quatro lanchas patrulheiras, dez aviões de transporte C-295 e dois outros aviões de vigilância marítima.

A venda provocou também inquietações na Colômbia, principalmente pelo fato de Zapatero, logo após chegar ao poder, ter vetado uma decisão de seu antecessor, José María Aznar, de vender 46 tanques AMX-30 ao governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe.

A chanceler colombiana, Carolina Barco, declarou em entrevista à Radio Caracol na Cidade Guayana, na Venezuela, que seu governo está mais preocupado pelo destino das armas venezuelanas que ficarão fora de uso após a compra de novo arsenal da Rússia e da Espanha. Ela disse que armas "aposentadas" nos países da região podem terminar nas mãos dos rebeldes colombianos.

"A venda de aviões e navios tem como objetivo a vigilância das costas, transporte de pessoas, defesa da segurança para, no caso da Venezuela, o controle de fronteiras, a luta ao narcotráfico e não tem nenhuma natureza ofensiva", disse Zapatero na cidade venezuelana de Puerto Ordaz, onde participou de uma reunião com Chávez, Uribe e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Zapatero iniciou ontem uma visita a Bogotá para reafirmar seu apoio à luta antiterrorismo de Uribe e dissipar temores pela cooperação militar com a Venezuela.

Além da venda de aviões e navios, Espanha e Venezuela fecharam acordos na área de energia para a criação de uma sociedade mista entre a multinacional espanhola Repsol YPF e a estatal Petróleos de Venezuela S.A (PDVSA), com uma participação de 49% e 51%, respectivamente. Este convênio permitirá à Repsol aumentar sua produção de petróleo na Venezuela de 100 mil para 160 mil barris diários. Outro contrato, dentro do projeto de Gás Natural Liquefeito, permitirá à Repsol construir uma central de liquefação nas costas venezuelanas. De 1994 a 2004, a Repsol investiu US$ 1,5 bilhão na Venezuela.

Zapatero também pediu ontem à Venezuela que preserve sua democracia após os opositores acusarem Chávez de prender seus críticos e de restringir as liberdades políticas.

O Departamento de Estado assegurou ontem que os EUA compartilham como o Brasil "aspirações comuns" para a América Latina, um dia após o presidente Lula dizer que a Venezuela tem o direito de ser um país soberano. "Os EUA e Brasil, assim como outros países da região, têm aspirações comuns para a região em termos de desenvolvimento político, econômico e de liderança para solucionar problemas regionais", disse o porta-voz Adam Ereli, reiterando que para os EUA "medidas e políticas adotadas pela Venezuela são contrárias aos princípios da democracia, dos direitos humanos e da liberdade".