Título: Zimbábue elege hoje novo Parlamento em clima xenófobo
Autor: Gilles Lapouge
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Internacional, p. A18

O Zimbábue elege hoje seus deputados. Esse país, entre a África do Sul e Moçambique, chamava-se Rodésia na época das colônias britânicas. Era próspero. Quatro mil fazendeiros brancos, tinham mão-de-ferro, uma economia agropecuária e de mineração. O país obteve a independência há 25 anos, após uma guerra de libertação. Mas, dominado por Robert Mugabe, lançou-se em uma política xenófoba e antiocidental. E degringolou. Hoje, está em ruínas. A inflação é de 120%. Dos 13 milhões de habitantes, 2,3 milhões são soropositivos.

Mugabe ainda está lá. Nas eleições anteriores, ganhou pela fraude, corrupção e tirania. Nada disso este ano: a campanha eleitoral foi correta. Um partido de oposição, o MDC, é tolerado. As urnas onde serão depositados os votos serão até transparentes - milagre.

Mugabe escolheu uma outra tática. Toda a campanha de seu partido, o Zanu-PF, se sustenta no ódio ao antigo colonizador, a Grã-Bretanha. A pessoa sobre a qual cospem nos comícios de Mugabe não é o líder do partido de oposição do Zimbábue, o MDC, mas o líder britânico,Tony Blair, descrito como diabo, responsável pela miséria, pela explosão das explorações agrícolas na época da colonização. De resto, oficialmente, a campanha realizada pelo partido tem como título: "Campanha anti-Blair". Entre os slogans: "Enterre Blair. Vote Mugabe!" Por que Blair é tão detestado? Porque ele é inglês, claro. Além do mais, diz-se que Blair arruinou o país.

"Temos de pôr fim ao fechamento racista das empresas e à apropriação racista das matérias primas... Vamos acabar com a falta de petróleo e o fim das sanções", gritam os partidários de Mugabe. Outra acusação de Mugabe contra Blair: "Os ingleses deram milhões de dólares ao partido de oposição do MDC para comprar-lhes as almas e as consciências." Nesse cenário, os observadores não afastam a possibilidade de que ele vença.