Título: IGP-M triplica e dá o alerta vermelho
Autor: Jacqueline Farid, Colaborou: Gustavo Fre
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Economia, p. B1

O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) quase triplicou em março ante fevereiro, passando de 0,30% para 0,85%. A taxa mostrou pressões de choques de oferta e de demanda nos preços e acionou o primeiro sinal vermelho da inflação em 2005. O salto causou apreensões sobre novos aumentos nos juros e foi motivo de uma declaração do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. "A inflação corrente não está contaminando as expectativas de prazos mais longos", disse.

A variação do IGP-M em março foi a maior apurada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) desde agosto de 2004 (1,22%). O índice acumula alta de 1,55% no ano e de 11,12% em 12 meses.

"O resultado do IGP-M, particularmente no atacado, reflete agora maior variedade de causas de elevação. Há uma multiplicidade de fatores causadores dessa aceleração", disse o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, que até o mês passado refutava uma alta generalizada de preços.

A preocupação de Quadros é compartilhada por outros analistas do mercado. Eles avaliam que os dados vão deixar ainda mais cauteloso o Conselho de Política Monetária (Copom), o que poderá provocar nova elevação dos juros em abril.

O economista Paulo Leme, da Goldman Sachs, citou os dados do IGP-M para afirmar que não descarta uma nova alta da taxa básica (Selic), de 0,25 a 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Copom. Também analistas de consultorias como a GRC Visão emitiram relatórios nos quais avaliam que a inflação poderá motivar uma nova alta nos juros.

"O IGP-M é o indicador que baliza os reajustes de energia elétrica e a surpresa negativa do índice é mais um fator que põe em stand by a questão do fim do aperto monetário", afirmaram os analistas da GRC, em relatório enviado a clientes.

Meirelles rebateu os temores do mercado. Disse que o BC continuará tomando as providências necessárias para cumprir a meta de inflação deste ano, de 5,1% para o IPCA, calculado pelo IBGE.

Ontem, após a divulgação do IGP-M, os economistas do Bradesco divulgaram uma projeção revisada para o IPCA deste ano, de 5,64% para 5,96%, e afirmaram que os índices da FGV continuarão pressionados nos próximos quatro meses. Leme também disse que dificilmente a meta deste ano será cumprida.

ACELERAÇÃO

O Índice de Preços do Atacado (IPA-M), que responde por 60% do IGP-M, disparou para 0,94% em março, ante 0,20% em fevereiro. O ovo continuou o vilão da inflação em março, como em fevereiro. O produto, com alta de 25,11% no atacado, respondeu por um terço da aceleração de 0,74 ponto porcentual do IPA-M de um mês para o outro.