Título: Acordos são os melhores em 9 anos
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Economia, p. B3

Para Dieese, resultados das negociações salariais em 2004 foram os melhores da série histórica de 9 anos . A maioria das campanhas salariais em 2004 obteve reajuste salarial igual ou superior ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o estudo "O Comportamento dos Reajustes Salariais em 2004", divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), entre 658 negociações analisadas, 81% tiveram reajuste igual ou maior do que o INPC (55% acima do índice e 26% igual). O resultado é o melhor em nove anos de acompanhamento das negociações salariais pelo Dieese. Segundo seus coordenadores, não é conclusivo para apontar o comportamento global do mercado de trabalho no Brasil, mas aponta tendências e movimentos sobre os rumos da relação entre empregados e empregadores. O mesmo levantamento indicou que 19% das negociações conduzidas por sindicatos de trabalhadores e patronais resultaram em correção abaixo do INPC. A pesquisa também captou desempenhos relativamente diferentes, conforme as regiões do País: no Sul, 87% dos reajustes salariais foram iguais ou superiores ao INPC, e em 59% houve aumento real de salários; no Sudeste, 80% das negociações conseguiram acompanhar o índice ou ficar acima, já que, em 55% delas, os trabalhadores obtiveram ganho real de salário. "Nas Regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, a recomposição salarial atingiu de 67% a 73% dos resultados do total das negociações", informa o levantamento.

Em todo o País, o setor industrial teve 87% de suas negociações com resultado maior do que o INPC, enquanto, no comércio, o desempenho ficou em 82% e, em serviços, 71%.

Das 658 negociações acompanhadas pelo Dieese, 92% garantiram correção salarial aos trabalhadores com pagamento à vista. Em outros 7,5%, os reajustes foram parcelados e, conforme o levantamento, 0,5% das conversas não resultou nenhuma reposição. Por fim, o estudo demonstra que o uso de abonos salariais se manteve praticamente estável em relação a 2003, caindo de 12% para 11% do total das negociações. "Esta modalidade de cláusula salarial, após 2001, também permanece nas negociações, variando num patamar de cerca de 10% a 15% das observações", informa o Dieese.

AUMENTO REAL

Segundo dirigentes do Dieese, as negociações salariais neste ano deverão seguir o bom desempenho de 2004. "A manutenção da inflação parece ganhar presença contínua nas negociações e o embate entre sindicatos e empregadores deve se concentrar em aumentos reais de salário e outros benefícios", estimou o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. "A tendência é de buscarmos aumento real de salário, acima do INPC, e não ficar na posição de apenas defender a manutenção do emprego", complementou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

O bom desempenho de 2004 foi justificado pelo crescimento econômico do País, de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB), impulsionado pela expansão das exportações, acompanhado de inflação baixa e queda dos juros reais para um patamar inferior a dois dígitos durante boa parte do ano passado. Nesse ambiente favorável, a ação sindical se mostrou mais eficiente e capaz de obter melhores resultados salariais. "Está claro que, quando há crescimento econômico acompanhado de juros baixos, os reajustes salariais são sempre melhores", opinou Juruna.

O otimismo do meio sindical se reflete também nas expectativas das negociações do primeiro semestre deste ano. "É de se esperar que as negociações salariais do primeiro semestre de 2005 sejam bem melhores do que as do mesmo período do ano passado", sugeriu Lúcio.