Título: Presidente garante: meta de inflação será perseguida
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Economia, p. B4

Meirelles faz defesa firme do regime e diz que BC tomará

todas as medidas necessárias para que limite seja respeitado

O debate sobre a meta ideal de inflação para o País não pode comprometer a credibilidade do Banco Central (BC) no combate às pressões inflacionárias, avaliou o presidente da instituição, Henrique Meirelles. A discussão ganha força à medida que a alta dos juros não está assegurando que o índice de preços de referência para o BC, o IPCA, alcance o nível desejado. "O importante é que o BC vai tomar, não só agora, mas nos próximos anos, as medidas necessárias para ter a inflação dentro da trajetória de metas", afirmou. Na festa dos 40 anos do BC, Meirelles destacou a importância da adoção do regime de metas de inflação no Brasil e disse reconhecer como legítimo o debate sobre o aperfeiçoamento desse sistema. Mas ressaltou que, quanto maior for a certeza da sociedade do comprometimento do BC com o combate à inflação, menor será o custo para o País.

Recentemente, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, voltou a criticar a meta de inflação, fixada em 4,5% para este ano e 2006, e defendeu que o Brasil adote um valor mais alto (5,5%) para 2005 e os próximos anos. Isso seria uma forma de evitar altas fortes dos juros e redução no crescimento da economia.

EQUILÍBRIO FISCAL

Apesar da alta dos juros iniciada em setembro passado, a projeção de inflação do BC para este ano continua subindo e já está em 5,5% - acima do centro da meta e dos 5,1% determinados como novo alvo a ser perseguido pelo BC, numa tentativa de ajuste à realidade. Segundo Meirelles, o BC fará o que for preciso para trazer a inflação ao patamar pretendido.

Da mesma forma, disse, o governo está comprometido com o equilíbrio fiscal e o cumprimento da meta de atingir uma economia equivalente a 4,25% da produção nacional (PIB), após apurar receitas e despesas públicas excluindo os gastos com juros. Nem a crise em torno da Medida Provisória 232, que aumentava a cobrança de impostos de alguns setores e reajustava a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, representa, para ele, um ruído significativo que comprometa as metas.

"Questões pontuais de política fiscal não mudam, de maneira nenhuma, o compromisso do governo de entregar o superávit prometido", afirmou Meirelles, esquivando-se de dizer se seria favorável ao aumento do aperto fiscal previsto para este ano. Vários especialistas do mercado defendem a necessidade de elevar a meta de superávit primário para o ano, como forma de auxiliar a política monetária no combate à inflação.

"Isso ajudaria a derrubar a inflação. Hoje, a política monetária está isolada nessa tarefa", enfatizou Paulo Leme, diretor para mercados emergentes da Goldman Sachs. Ele defende que a equipe econômica melhore a qualidade do ajuste fiscal controlando mais as despesas, em vez de apenas elevar as receitas.

O economista também ressaltou que o governo deve evitar dúvidas sobre importantes instrumentos de controle dos gastos públicos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Recentemente, a descoberta de operações de financiamento de obras de iluminação pública feitas pela Prefeitura de São Paulo levantaram dúvidas nos investidores estrangeiros em relação a brechas que permitirão os entes públicos burlarem a LRF. "O governo não pode deixar cartas na mesa para que os investidores reavaliem o Brasil num momento em que eles possam estar mais avesso a riscos."