Título: O sangue azul do nobre deputado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Nacional, p. A4

Severino Cavalcanti - quem diria - tem sangue azul e sabia disso, embora nunca tenha se gabado da origem. Ele confirmou a informação há 15 dias, quando o embaixador da Itália, Michele Valensise, entregou-lhe um estudo dos parlamentares brasileiros de origem italiana e lhe contou: "O senhor tem sobrenome de nobre italiano." Severino é descendente de d. Filippo Cavalcanti, cavaleiro florentino da Ordem de Malta que caiu em desgraça depois de tentar derrubar ninguém menos do que o duque Cosme de Médicis. Ao falhar, d. Filippo fugiu para Portugal. Em 1559, aportou nas costas de Pernambuco e acabou fundando a dinastia dos Cavalcanti no Brasil. O Dicionário da Família Brasileira, de Cunha Bueno e Carlos Eduardo Barata, informa que os Cavalcanti são a maior família brasileira - maior até que os Silva, o que significa que existem muito mais severinos do que lulas - e está espalhada por todo o País.

HUMILDADE

Após a visita do embaixador italiano, assessores perguntaram a Severino se conhecia sua origem. Ele disse que sim e que há um livro que conta a genealogia dos descendentes de Filippo Cavalcanti. Com humildade, acrescentou: "Mas não me importo com isso. Sou apenas Severino."

O livro é Genealogia dos Albuquerque e Cavalcanti, de Adalzira Bittencourt (Editora Livro de Portugal, Rio de Janeiro, 1965), e está sob a guarda de Helena Cavalcanti, de 72 anos, irmã de Severino, que mora em São Paulo. "Orgulho-me muito do Severino. Ele tem o espírito e a alma nobres, ajuda os pobres, e não é com dinheiro da Câmara não, é com dinheiro dele mesmo", diz Helena. Ela conta que a família tem um brasão, herdado do mesmo Filippo Cavalcanti.

A história do patriarca Filippo Cavalcanti tem detalhes curiosos. Severino Cavalcanti é ultracatólico, conservador, contrário a movimentos comportamentais como o casamento de pessoas do mesmo sexo. Já seu antepassado Filippo era bem menos ortodoxo. Pedro Wilson Carrano Albuquerque conta que a outra ponta inaugural da dinastia dos Cavalcanti no Brasil é a mameluca Catarina de Albuquerque, que Filippo esposou, tendo com ela 11 filhos, a geração inicial dos Cavalcanti brasileiros.

Mas a iconoclastia de Filippo foi além. Na Itália a Inquisição o acusou de crime de sodomia, conta Pedro Wilson na publicação Encontro com os Ancestrais (na internet, www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=142&cat=Ensaios).

Outro personagem da árvore genealógica feita por Carrano também chama muito a atenção. Trata-se de Jerônimo de Albuquerque, que veio para o Brasil com seu cunhado Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco. Preso pelos tabajara, livrou-se da morte graças a Muíra Ubi, filha do morubixaba, com a qual teve 8 filhos. Ao ser batizada, Muíra passou a chamar-se Maria do Espírito Santo Arcoverde. Jerônimo teve, pelo menos, 34 filhos com várias mulheres e ganhou o apelido de "Adão Pernambucano".