Título: 'PT vive as contradições previsíveis do poder'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Nacional, p. A6

-O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que o PT vive as "contradições previsíveis do exercício do poder" e admite "um grande embate entre fatos e idéias" depois que o partido fundado por ele virou governo, há dois anos e três meses. Acompanhando de perto a proposta da ala moderada petista para o novo programa partidário, Lula não tem dúvidas: para ele, o partido enfrenta um período de "tensão desafiadora". "A construção da identidade do PT no poder acontece simultaneamente à realização de um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil na era da globalização", observou o presidente. "No fundo, o que está em jogo não é apenas o futuro do PT, mas, sim, a capacidade transformadora da democracia no século 21." As afirmações de Lula, que também constam da mensagem enviada por ele para a comemoração dos 25 anos do PT, refletem o momento de angústia vivido pela sigla.

A polêmica promete esquentar a partir dos dias 9 e 10 de abril, no Rio. É lá que o campo majoritário do PT, formado por fações moderadas, vai reunir-se para concluir a tese que o grupo inscreverá em maio. Será junto com a chapa liderada por José Genoino, que concorrerá ao segundo mandato no comando do partido. A eleição direta será em setembro. Três meses depois, em dezembro, o PT promoverá o 13.º Encontro Nacional, quando atualizará o seu programa. No jargão petista, a tese vencedora rege os rumos do partido para o próximo biênio.

A idéia dos moderados é fazer uma revisão no ideário político do PT a partir da experiência vivida no governo Lula, como antecipou ontem o Estado. Além de incorporar no programa a defesa do superávit primário, do ajuste fiscal e do cumprimento dos contratos, a proposta do campo majoritário comprará outra briga com os radicais ao abordar o papel do Estado.

Para o grupo de Lula, o Estado não deve ser um gigante, com tentáculos por toda parte, como reza a velha cantilena da esquerda. Mas também não pode ser mínimo. "O eixo da nossa proposta é o Estado como indutor do desenvolvimento. Não queremos nem o desenvolvimentismo estatal dos anos 50 nem o modelo do governo anterior, com abertura indiscriminada da economia e privatização", argumentou Genoino.

O documento buscará o "caminho do meio" entre a visão nacional-desenvolvimentista e o neoliberalismo. A proposta tem como referência o modelo adotado pelos países asiáticos e faz várias críticas aos tucanos.

Escaldado com as críticas dos radicais, que acusam a cúpula petista de tentar transformar o PT num apêndice do Planalto, Genoino destacou que conduzirá o debate na linha da "repactuação" interna, sem acerto de contas. "Não vamos centrar as discussões no tamanho do superávit nem da meta da inflação. Esses pressupostos não são fim: são meio para atingirmos nossos objetivos. Mas precisamos ver que o governo anterior, de Fernando Henrique, hipotecou parte do nosso futuro com o tamanho dessa dívida", insistiu o presidente do PT.