Título: União confisca R$57 mil e Alckimin diz que Lula passou dos limites
Autor: Lopes, Elizabeth; Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Nacional, p. A8

O seqüestro surpresa de R$ 57 milhões, feito pela Secretaria do Tesouro em conta do governo estadual, foi a gota d'água que precipitou ontem uma guerra entre o governo federal do PT e os governos da capital e do Estado de São Paulo, do PSDB. O governador Geraldo Alckmin só soube do confisco depois de concretizado; e, em entrevista, reagiu com dureza: "O governo Lula passou dos limites", enervou-se.

Já o prefeito José Serra abriu baterias contra a empresa AES Eletropaulo, que desligou a energia de 85 prédios da Prefeitura. Serra afirmou que a empresa não cortara a energia na gestão anterior, do PT, porque conseguira empréstimo do BNDES. À tarde conversou com Guido Mantega, presidente do banco, que se queixou da insinuação, mas os dois acabaram encaminhando uma solução.

O seqüestro na conta do governo estadual foi feito para quitar dívidas da Vasp nos anos 80, das quais o Estado era garantidor. Com a gota d'água derramada, Alckmin desabafou e cobrou do BNDES financiamentos para o metrô e a Cesp, que diz estarem sendo protelados pelo banco.

"ARBITRÁRIA"

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, durou o dia tentou minimizar o problema, afirmando que "é fato público que o Estado é garantidor da dívida da Vasp há anos". O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, alegou que a Justiça tomou a decisão do seqüestro. Disse que o governo do Estado foi informado da decisão jurídica e descaracterizou o problema: "Não há nenhuma crise." À noite o chefe da Casa Civil paulista, Arnaldo Madeira, os desmentiu: "Não existe decisão judicial nenhuma. Essa gente mente deslavadamente", bateu.

Alckmin acusou o governo federal de perseguir São Paulo: "Além de não nos ajudar, o governo Lula promoveu seqüestro dos recursos do povo de São Paulo", vociferou. À noite, em São Paulo, um pouco antes da solenidade dos 125 anos da imigração libanesa no Brasil, Lula e Alckmin se encontraram num dos salões do Clube Monte Líbano e mantiveram rápido diálogo. Segundo um dos presentes, Lula disse a Alckmin: "São Paulo tem muito dinheiro, mas pode ficar sossegado porque nós não vamos seqüestrar mais nada."

Logo pela manhã, segundo Alckmin, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, lhe telefonou para falar sobre a dívida da Cesp e citou de passagem o seqüestro. "O bloqueio já havia sido feito e nós não fomos comunicados. A conversa foi inusitada", avaliou. Mais tarde, em novo telefonema, Palocci lhe disse achar a medida "precipitada". Ontem, a área jurídica do Estado obteve liminar do STF, suspendendo qualquer novo bloqueio.

Alckmin explicou que os R$ 57 milhões, com a liminar, serão devolvidos ao Estado, mas o governo federal na verdade tentou bloquear um total de R$ 590 milhões.

Em Brasília, o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo, protestou: "São recursos do povo de São Paulo." Denunciou que o governo federal foi tolerante com ex-prefeita Marta Suplicy, do PT, "a ponto de apoiar desrespeito à Lei Fiscal". Disse que a medida "soa como retaliação ao possível candidato do PSDB à presidência".