Título: Estudantes vaiam Lula e atacam 'privatização' das universidades
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Nacional, p. A10

Vaiado por cerca de 200 estudantes que protestavam contra a reforma universitária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem, em São Carlos, um rápido mas contundente discurso em defesa da política educacional. Ao ouvir que a reforma representava "a privatização do ensino" e que suas promessas "eram mentira", Lula gastou sete minutos para explicar que as ações do governo vão melhorar a educação no País e devem permitir, neste século, "exportar inteligência, conhecimento e valor agregado". Alheios ao que ele dizia, os estudantes, usando fantasias e nariz de palhaço, continuaram a gritar slogans como "Lula/presta atenção/essa reforma/é privatização". "Eu tinha dito, antes da eleição, que era preciso um torneiro mecânico ser eleito presidente para resolver o problema, não apenas do ensino fundamental e médio, mas também das universidades", discursou ele, em visita ao canteiro de obras onde será construído um hospital-escola municipal. Ressaltou ainda que, se não houver investimento nas universidades, não será possível construir um País forte e soberano.

O presidente disse que a política educacional está sendo desenvolvida para que o Brasil não seja apenas exportador de matéria-prima, minério de ferro ou produtos in natura. "Nós queremos, neste século, e eu tenho dito que o século 21 será o século do Brasil e da América do Sul, exportar inteligência, conhecimento e valor agregado", disse, destacando que a reforma tem o apoio dos reitores das universidades federais.

Sem se dar por vencidos, os estudantes aumentaram o tom dos protestos. Irritado, Lula prometeu aos manifestantes que o hospital-escola de São Carlos estará pronto ainda em 2005, realizando no fim do ano seu primeiro vestibular. Nesse momento, os estudantes deram uma trégua e aplaudiram.

Lula cobrou dos futuros alunos que, após formados, se dediquem à medicina social. "É importante que saiam da universidade e possam trabalhar no serviço público com orgulho, não apenas pensar em se formar para montar um gabinete e ganhar dinheiro às custas da doença do povo pobre", disse. "É importante que o médico tenha um tempo para trabalhar na rede pública."

COSTELAS

Acompanhado de seis ministros - José Dirceu (Casa Civil), Humberto Costa (Saúde), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Ricardo Berzoini (Trabalho), Jorge Félix (Gabinete Institucional) e Márcio Fortes (interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Lula afirmou que o papel de seu governo "é fazer tudo aquilo que não foi feito na história do País".

O presidente afirmou ainda que tem como meta criar hospitais-escola em outras cidades. Em São Carlos, a primeira etapa do projeto custará R$ 8,6 milhões. Lula disse que "há muitos anos" não se criava uma instituição federal de ensino superior no Brasil. E ressaltou que seu governo está criando 4 universidades federais e 13 extensões para regiões pobres, incluindo sua terra natal, Garanhuns (PE).

O presidente também visitou as instalações da Tecumseh, maior empregadora da cidade, com mais de 7 mil funcionários. Ao falar sobre exportações, Lula adiantou que em maio visitará o Japão e vai trabalhar para vender carne a esse país. "Já falei para o embaixador: pode preparar uma churrasqueira. Vamos levar umas picanhas e costelas."