Título: Deputado que 'viu estrelas¿ vira defensor do exame de próstata
Autor: Biaggio Talento
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Nacional, p. A10

Ainda traumatizado com um exame de próstata que o levou a discutir o assunto em sessão plenária da Assembléia Legislativa da Bahia esta semana, o deputado petista Manoel Isidório de Santana, o Sargento Isidório, apresentou ontem na Casa um projeto para que o governo baiano crie campanhas de esclarecimento e incentivo sobre o referido exame. O deputado também elaborou uma indicação a ser enviada ao Ministério da Saúde para que a pasta apóie financeiramente as pesquisas sobre o desenvolvimento de técnicas menos traumáticas para detectar o câncer de próstata, diferente da atual, que consiste em tocar a glândula com o dedo através do ânus. Ele negou veementemente ser contra o exame preventivo. "Seria um criminoso se fosse", disse. Falando de cátedra sobre o assunto, após a experiência "angustiante", Sargento Isidório afirma ser fundamental esclarecer "psicologicamente" o homem simples como o exame de toque é feito para que não ocorra o mesmo que aconteceu com ele. "Se eu que sou um deputado fiquei assustado, imagine o homem do campo", ponderou. Sargento da PM reformado, Isidório explicou que não tinha a mínima idéia de como o procedimento era feito. "Sou uma pessoa humilde, fui policial minha vida toda, entendo de cassetete e essas coisas do ramo", contou, justificando sua ingenuidade. Segundo ele, ao entrar no consultório do médico, o profissional não lhe deu qualquer explicação sobre o assunto. "Ele perguntou se era a primeira vez, pediu para eu tirar a roupa e tome-lhe dedo", descreveu, explicando não lembrar ter usado o termo "ver estrelas" para caracterizar o desconforto. "Acho que foi vaga-lume", esclareceu.

"Sofri, mas foi um sofrimento beneficente, pois o exame é o método mais eficiente para identificar o câncer de próstata", comentou o petista, embora tenha lido em alguns sites médicos que o exame não é 100% eficiente. "Há uma margem de erro de 8%, mas longe de mim querer atacar o toque: estou defendendo um maior esclarecimento às pessoas humildes, de uma forma positiva", disse.

Sargento Isidório reagiu também contra os que reclamaram do fato de ele ter tratado do assunto na Assembléia. "E queriam que eu tratasse num boteco? Não se fala sobre campanhas de prevenção à aids e ao câncer de mama nas casas legislativas? Por que não o câncer de próstata? Isso é preconceito."

Ele ficou conhecido em 2001 como um dos líderes da greve dos policiais da Bahia que deixou Salvador caótica durante 13 dias. Ele chegou a ser preso e quase internado no hospício da cidade, mas os médicos atestaram que não era louco. "Só fui solto devido à pressão de sindicalistas e deputados", lembra. Acabou expulso da PM, mas obteve a reintegração na Justiça e hoje é sargento da reserva.

Por conta da projeção obtida na greve, ganhou a sua primeira eleição a deputado estadual em 2002, usando como plataforma a luta pela redução do preço do botijão de cozinha. Devido à bandeira, Isidório costuma andar segurando uma embalagem plástica de botijão de 13 quilos. Certa feita tentou até entregar uma delas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.