Título: Nos 41 anos do golpe, Exército fala em conciliação
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Nacional, p. A12

No aniversário de 41 anos do movimento que derrubou o presidente João Goulart, o Exército divulgou nota ontem afirmando que a Força contribui, num clima de "entendimento", "concórdia" e "conciliação", para o desenvolvimento do País. Em 22 linhas, o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, diz que os militares escreveram "páginas gloriosas" da história do Brasil, destacando fatos como a luta dos pracinhas na 2.ª Guerra e as ações pela abolição dos escravos e proclamação da República. A "ordem do dia", lida nos quartéis, evita comentar diretamente os acontecimentos de março e abril de 1964, apenas pede uma análise histórica do período. "Este 31 de março é momento de reflexão determinante sobre o nosso passado, o nosso presente e a grandiosidade de nosso futuro como nação livre, soberana e, sobretudo, socialmente justa."

O texto, divulgado pelo general Antônio Gabriel Esper, chefe do Centro de Comunicação do Exército, evita palavras de "comemoração" e não faz mea-culpa ou autocrítica sobre a atuação da Força no período militar (1964-1985). "A instituição segue o seu destino de seguir a pátria, orgulhosa de suas tradições", ressalta. "Quando chamado a agir, (o Exército) sempre o fez objetivando exclusivamente os mais elevados interesses nacionais."

A intenção do comando do Exército era elaborar uma nota que não descontentasse os militares da reserva e, ao mesmo tempo, não causasse barulho na opinião pública, como o que ocorreu no ano passado. Em outubro, a instituição divulgou uma nota com louvores ao regime militar, em resposta a uma reportagem do jornal Correio Braziliense com fotos de um homem nu, a princípio identificado como sendo o jornalista Vladimir Herzog momentos antes de ser morto numa delegacia. As fotos eram, na verdade, de um padre, mas o teor da nota já tinha feito estrago. O ministro da Defesa, José Viegas, caiu e o comandante do Exército chegou a ficar na corda bamba.

CRUZES

Um grupo de militares da reserva fincou ontem cruzes de madeira no gramado do Congresso para lembrar os mortos por grupos de esquerda entre 1964 e 1985. Na estimativa da ONG Terrorismo Nunca Mais, organizadora da manifestação, 120 pessoas morreram em atentados e justiçamentos promovidos por guerrilheiros contrários ao regime militar. Já a ONG Tortura Nunca Mais, que reúne parentes de desaparecidos políticos, destaca que o Estado brasileiro matou ou foi responsável pelo desaparecimento de 344 pessoas no período militar.

Carlos Alberto Ulstra, um dos organizadores da manifestação, disse que os militares têm interesse na abertura dos arquivos secretos. "O povo tem direito de saber o que tem nesses arquivos, mas o que não pode é o José Dirceu (ministro da Casa Civil) fazer triagem dos documentos."