Título: EUA querem que Brasil influencie a Venezuela
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Internacional, p. A14

O governo dos EUA alerta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não está usando sua influência em relação ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para "trazê-lo de volta ao caminho da democracia". "O Brasil deveria ajudar a promover a democracia onde não existe e evitar retrocessos. Será uma decisão soberana do Brasil de como fará isso. Mas ainda não há provas de que o papel do Brasil com a Venezuela esteja sendo o de persuadir o presidente Chávez a voltar ao caminho da democracia", afirmou Mark Lagon, subsecretário-adjunto de Estado.

Lagon, responsável no Departamento de Estado por temas relacionados às organizações internacionais, deixou clara a posição da Casa Branca em relação à Venezuela. "Os EUA estão muito preocupados com a situação na Venezuela e com a democracia (no país). O julgamento do governo americano é que muitas das ações governamentais de Chávez e de sua diplomacia são desestabilizadoras, tanto para o país como para outros da região", afirmou o representante americano, que participou ontem dos debates sobre os direitos humanos na ONU. "A Venezuela pode ter um infeliz papel desestabilizador na região sul-americana."

"Parceiros do Hemisfério Ocidental que têm ricas instituições (democráticas) devem usá-las para mostrar o retrocesso da liberdade e da democracia na Venezuela", afirmou. "Sobre o papel do Brasil, esperamos que por meio de um diálogo com a Venezuela, ajude a proteger a democracia. O Brasil é uma democracia muito importante que tem papel significativo", disse.

Chávez declarou ontem que não quer ser inimigo dos EUA, em meio às tensas relações entre ambos os países. "Não queremos ser inimigos dos EUA, disse estes dias a (o presidente brasileiro, Luiz Inácio da Silva) Lula. O que eu quero é paz, que me deixem em paz, que nos deixem em paz para fazer o que queremos fazer, para cumprir a tarefa que nos impusemos", disse Chávez em um discurso em rede de rádio e TV.

O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, ofereceu ontem apoiar com a doação de aviões e a possível venda de helicópteros a luta contra o terrorismo do presidente colombiano, Álvaro Uribe, mas sem conseguir conter críticas pela venda de armas da Espanha à Venezuela.

Zapatero, que se reuniu ontem em Bogotá com Uribe, anunciou a doação de três aviões do tipo C-212 e disse que seu governo avalia a venda de "uns helicópteros, para reforçar a política de segurança" da Colômbia. Ele defendeu o diálogo e o consenso para afastar da Colômbia o "fantasma do terror" e garantiu que o país conta com a Espanha nessa tarefa.

Com seu anúncio, o líder espanhol tentou acabar com a polêmica pela venda ao governo Chávez, de quatro corvetas, quatro lanchas de patrulha e dez aviões de transporte C-295, que setores da Colômbia, EUA e Venezuela dizem que provocará uma corrida armamentista. "Temos de tirar da cabeça que na região exista algum tipo de situação que possamos considerar conflitiva, em termos que nos leve a pensar no risco de um rearmamento", declarou Zapatero, defendendo a venda de armas.