Título: Zimbábue vai em massa às urnas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Internacional, p. A18

Sob uma chuva fina, os zimbabuanos fizeram ontem longas filas para votar nas eleições parlamentares. A oposição do Zimbábue congratulou-se com a alta participação e disse que ela superou a das eleições de 2000. Mas também denunciou incidentes isolados de violência e de intimidação e disse que o processo de votação era tendencioso antes mesmo de seu início. "Não estamos satisfeitos com o modo que o processo eleitoral foi organizado e acho que todos concordamos que esta não é uma eleição livre e justa", disse o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, ao depositar seu voto em uma escola de subúrbio de Harare.

Os EUA disseram ontem que as eleições foram realizadas sob um clima de intimidação e funcionários de um grupo de observadores independentes informaram que dezenas de milhares de eleitores foram recusados nos centros de votação em todo o país sob vários pretextos.

Dois jornalistas britânicos foram presos sob acusação de cobrirem as eleições sem a credencial do governo, uma violação que pode levar a 2 anos de prisão e pagamento de multa.

Sob pressão internacional, o governo do presidente Robert Mugabe, de 81 anos, e seu partido Zanu-PF contiveram a violência que marcou as eleições anteriores. Pela primeira vez em anos, o partido de Tsvangirai, o Movimento por Mudanças Democráticas (MDC) pôde fazer sua campanha livremente, mesmo nos redutos rurais do governo.

Mugabe mostrou-se ontem confiante de que as eleições parlamentares darão um claro mandato a seu partido, reafirmando seus 25 anos de poder. Mugabe rejeitou as denúncias de fraude feitas pela oposição e disse que elas não têm sentido.

"Todos viram que estas são eleições livres e justas. Não pode haver nunca outro lugar onde as eleições sejam tão livres como estão sendo aqui", disse um confiante Mugabe após votar em uma bairro pobre da capital.

A oposição anunciou que perto da meia-noite (local) poderia anunciar os resultados das eleições com base em informações coletadas em cada um dos 8 mil centros de votação. Resultados oficiais deveriam ser anunciados em 48 horas. Dos 12 milhões de habitantes do Zimbábue, 5,8 milhões têm direito a voto. O governo não permitiu o voto de 3,4 milhões de eleitores que vivem no exterior - muitos da oposição.

O presidente Mugabe centrou sua campanha na luta anti-Blair, acusando o primeiro-ministro britânico de querer recolonizar o Zimbábue. Tsvangirai, por sua vez, destacou a catastrófica situação da economia do país e a necessidade de recuperá-la.

Incentivado pela diminuição de violência contra seu partido, Tsvangirai manifestou a esperança de que o MDC possa conseguir respaldo suficiente para derrubar o Zanu-PF, de Mugabe.

O movimento democrático conseguiu 57 das 120 cadeiras do Parlamento escolhidas pelo voto nas eleições de 2000, apesar da violência generalizada e das fraudes. Em 2002, Tsvangirai perdeu por uma estreita margem as eleições presidenciais, que também foram consideradas fraudulentas.