Título: Estado de saúde do papa João Paulo ll se agrava com infecção
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Vida &, p. A19

Papa teria recebid a extrema-unção: Vaticano não confirma,mas admite que uma infecção urinária causa febre muito alta

A saúde de João Paulo II piorou na noite de ontem. Segundo informações não confirmadas oficialmente pelo Vaticano, ele teria recebido a extrema-unção - ou unção dos enfermos (leia texto abaixo). O papa estava com febre muito alta e a pressão baixa em virtude de uma infecção urinária, de acordo com o porta-voz da Santa Sé, Joaquin Navarro Valls. Ele passou a receber um tratamento à base de antibióticos. Apesar do agravamento de seu quadro clínico, João Paulo II não voltou a ser internado e permanecia em sua residência, no Vaticano. Desde anteontem, ele se alimenta por meio de uma sonda nasogástrica. Durante a madrugada em Roma, a Rádio Vaticano divulgou que "o estado de saúde do papa havia se estabilizado, depois de reagir positivamente aos antibióticos". Navarro afirmou que a situação está sendo controlada pelo grupo de médicos do Vaticano. O porta-voz se pronunciou depois que diversas agências de notícias passaram a divulgar uma possível piora na saúde de João Paulo II, de 84 anos. "O santo papa foi tomado por uma febre alta causada por uma infecção urinária", disse. A Santa Sé divulgou em seguida um boletim com essas informações.

O papa também recebeu a extrema-unção quando sofreu um atentado à bala em 1981. O sacramento não significa que o paciente esteja morrendo e, sim, que seu estado de saúde é grave. A piora do João Paulo II levou fiéis à Praça de São Pedro, no Vaticano, que rezavam pela sua recuperação. "Por enquanto, ele não será internado na Policlínica Gemelli ", disse o médico Rodolfo Proietti, chefe da equipe que atende o papa no hospital católico de Roma.

João Paulo II é o líder da Igreja Católica, que tem de 1,1 bilhão de fiéis no mundo todo, desde 1978. Ele cumpre o segundo maior pontificado da história. O papa sofre de mal de Parkinson há anos e teve complicações respiratórias no mês passado. No dia 24 de fevereiro, foi internado e teve de ser submetido a uma traqueostomia, cirurgia que facilita a respiração por meio de um tubo colocado na altura na traquéia. Em 13 de março, recebeu alta do hospital. No Domingo de Páscoa, a TV mostrou cenas de dor, quando ele tentava dar sua tradicional bênção. Não conseguiu pronunciar uma palavra.

O papa descansou durante todo o dia de ontem. Na quarta-feira, ele apareceu brevemente para os fiéis na Praça de São Pedro, cumprimentou e abençoou durante vários minutos, mas também não conseguiu falar.

Segundo Navarro, a sonda colocada anteontem - que vai do nariz ao estômago - "melhora sua ingestão de calorias e favorece de maneira efetiva a recuperação de sua energia". Antes do procedimento, o Vaticano havia informado que o papa sofria conseqüências da traqueostomia, principalmente tendo dificuldades para se alimentar.

Desde então, ele teria perdido 19 quilos, de acordo com uma fonte do Vaticano, que não quis se identificar. "Foi por isso que decidiram colocar na quarta-feira a sonda nasogástrica", disse. Os meios de imprensa oficial já teriam recebido recomendações para evitar mostrá-lo em primeiro plano, tanto em fotos quanto em imagens televisivas.

Uma equipe de quatro enfermeiros, chamados de veladores, atende permanentemente o papa e tem a obrigação de informar aos médicos e ao secretário particular de João Paulo II, monsenhor Stanislaw Dziwisz, sobre qualquer mudança no seu estado de saúde.

RENÚNCIA

O biógrafo do papa Vittorio Messori disse ontem que acredita que ele não vai renunciar. A declaração do autor do livro Cruzando o Limiar da Esperança, que vendeu milhões de exemplares no mundo todo, foi publicada na primeira página do jornal italiano Corriere della Sera. "Aconteça o que acontecer, qualquer que seja a evolução de suas doenças, a Igreja não registrará a renúncia de outro papa em seus anais." O italiano Celestino V, que era monge, protagonizou o único caso de renúncia na história. Foi eleito papa em 1294 e desistiu cinco meses depois.

O cardeal italiano Ersilio Tonini afirmou ontem que o papa mantém sua capacidade de "compreensão e avaliação". Ele classificou de "inoportuna e equivocada" qualquer hipótese sobre a perda de poder de João Paulo II.

O polonês Karol Wojtyla é o primeiro papa estrangeiro depois de quatro séculos de líderes italianos. Ficou conhecido como papa peregrino por ter percorrido mais de 1 milhão de quilômetros em viagens pelo mundo. Sua escolha como 263.º papa foi uma surpresa em 16 de outubro de 1978, já que seu nome não estava entre os mais cotados.