Título: País está longe das metas da ONU
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Vida &, p. A22

O papel de líder mundial no combate à pobreza foi bem defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o País vai ter de se esforçar mais se quiser fazer jus ao título e servir de exemplo. Uma análise do caminho que o Brasil já percorreu para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), um conjunto de metas traçadas pelas Nações Unidas para 2015, mostrou que a situação brasileira está longe da ideal. Dos sete objetivos, apenas dois - universalização do ensino básico e reversão da tendência de crescimento da aids, da malária e da tuberculose - estão definitivamente na direção de serem cumpridos. "O que vejo é muito otimismo no Brasil, o que seria justificado se olhássemos apenas as médias nacionais. Mas esse é um Brasil artificial", afirmou o representante da ONU no País, Carlos Lopes.

O estudo foi feito por cinco universidades federais brasileiras a pedido do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A análise dos problemas que o Brasil deve enfrentar para atingir suas metas mostra que eles não são poucos. Até mesmo a pobreza, um dos temas mais recorrentes do atual governo, não deve seguir um caminho fácil.

Os dados usados são de 1991 e de 2000, os anos dos últimos censos feitos no País. Em cinco anos, admitem os pesquisadores, alguma coisa pode ter mudado. Mas, se mantido o ritmo da década de 90, o Brasil não vai conseguir reduzir pela metade o número de pessoas pobres nem a quantidade das que vivem em situação de indigência. A maior probabilidade é que a redução fique apenas em torno de 37,6%.

As diferenças regionais mais uma vez retardam o avanço do País. Enquanto as regiões Sul e Sudeste - com exceção de São Paulo - e Rondônia, Mato Grosso e Goiás têm ritmo para alcançar a meta, Amazonas, Amapá, Distrito Federal e São Paulo, ao contrário, tiveram aumento de pobreza nesse período.

Estado mais rico do País, São Paulo preocupa. "Proporcionalmente, a pobreza paulista não é alta. Mas como é o maior Estado do Brasil, o número de pessoas pobres impressiona, especialmente na região metropolitana", diz Eduardo Pontual, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que analisou o primeiro dos ODMs, a pobreza. Sem São Paulo, o Brasil poderia diminuir em cinco pontos percentuais o nível de pobreza até 2015.

Outras metas que preocupam são a mortalidade de menores de 5 anos e a mortalidade materna. Sinônimos de pobreza e qualidade de vida ruim, ambas impressionam por ainda serem causadas, em grande parte, por doenças evitáveis e terem sido reduzidas em ritmo lento nos últimos anos. "Cerca de 40% das crianças ainda morrem por doenças diarréicas e há mulheres morrendo por problemas de pressão arterial", disse a pesquisadora Elizabeth Reymão, da Universidade Federal do Pará.

Outros objetivos avaliados são o desenvolvimento sustentável e promoção da igualdade entre sexos e autonomia das mulheres.