Título: No principado, vestígios dos tempos do prazer de viver
Autor: Reali Júnior Correspondente
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Internacional, p. A14

A doença e morte do príncipe Rainier III foram acompanhadas com ansiedade e paixão muito além do principado. É um paradoxo: eis um país que ocupa no mapa do mundo o espaço de uma pulga - 189 hectares - habitado por 5 mil cidadãos (mais 29 mil habitantes não-monegascos) e ganha nos jornais mais espaço que alguns Estados mamutes, por exemplo, mais que um país como a Indonésia que é 4 mil vezes mais populoso. Outra coisa estranha: quando desembarcamos neste Éden, no azul de miragem do Mediterrâneo, acreditamos estar entrando em um principado de opereta, como os que encontramos nos álbuns de Tintin. Luxo, prazer de viver, arquietura, velhas duquesas e barões cansados sob as palmeiras... Vestígios de um século esquecido, de um século dos tempos do prazer de viver.

Mas Mônaco não é arcaico nem folclórico. É um Estado moderno e de um dinamismo impressionante, que usa às técnicas mais novas, mais revolucionárias, para gerir seu minúsculo espaço. Sob o reino de Rainier III, Mônaco ampliou seu território em 28 hectares, não fazendo guerra com a vizinha França, mas aterrando o fundo do mar em torno de seu pequeno porto.

No entanto, na origem, Mônaco foi uma terra de guerreiros. Não apenas foram encontrados vários esqueletos de homens de Neanderthal e Cro-Magnon, gente não muito pacífica, mas o próprio nascimento do principado é uma formidável operação de comando: em 1297, o Castelo Velho, sobre o rochedo de Mônaco, fortaleza inexpugnável, foi tomado por um Grimaldi, um homem de origem genovesa que se infiltrou no forte, com seu grupo, disfarçado de monge franciscano.

Mais tarde, esse país liliputiano sempre soube preservar sua independência, enfrentando enormes potências européias que poderiam aniquilá-lo com um sopro. É que os Grimaldi, embora seus ancestrais se parecessem com Rambo ou John Wayne, sempre foram excelentes diplomatas.

A história de Mônaco é uma seqüência de tratados de proteção com a França, na Idade Média, depois a Espanha, depois a Sardenha. Durante a Revolução Francesa, Mônaco foi anexado à França. Hoje, Mônaco é regida por um tratado com a França de 1878, completado em 1963, um tratado de amizade protetora , o que indica claramente que não se trata de uma colônia, nem de um protetorado, mas de obrigações recíprocas.

Em termos de notoriedade nas revistas de celebridades, Mônaco foi ajudado pelos filhos de Rainier e Grace - o príncipe Albert, que deve - em teoria - suceder ao pai, Stéphanie, a mais jovem, que se casa com uma freqüência absurda, e a mais velha, Caroline, casada novamente com o príncipe de Hanover, que tem uma forte presença nas artes e nas letras e é de uma cultura e uma fineza raras.