Título: Morre o príncipe Rainier, o soberano mais antigo da Europa
Autor: Reali Júnior Correspondente
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Internacional, p. A14

O príncipe Rainier III, de Mônaco, morreu ontem aos 81 anos por causa de problemas broncopulmonares agravados por crises cardíaca e renal. Rainier, que estava internado desde 7 de março no Centro Cardiotoráxico de Mônaco, morreu às 6h35 (horário local). Seu falecimento foi anunciado oficialmente duas horas depois pelo ministro de Estado, Patrick Leclercq. Rainier será sepultado ao lado da princesa Grace no dia 15, no intervalo entre os funerais de João Paulo II e a abertura, dia 18, do conclave para a escolha do novo papa. O principado decretou luto de seis meses para a família soberana e de três meses para os funcionários. Os cassinos fecharam suas portas e as partidas da equipe de futebol de Mônaco pelo campeonato francês foram suspensas. Rainier Louis Henri Maxence Bertrand Grimaldi morreu quase 56 anos após ter herdado o trono de seu avô, o príncipe Louis II, em maio de 1949. Rainier era o soberano mais antigo da Europa - e o segundo mais antigo do mundo, depois do rei Rama IX, da Tailândia, que reina desde junho de 1946. Agora, a rainha Elizabeth II, da Grã-Bretanha, é a mais antiga soberana européia, com 53 anos de reinado.

Há uma semana, quando o estado de saúde de Rainier se tornou irreversível, seu único filho do sexo masculino, o príncipe herdeiro Albert II, de 47 anos, já assumira a regência. Como Albert é solteiro, apesar da insistência de seu pai para que se casasse, com sua ascensão ao trono será sua irmã mais velha, Caroline, que passará à condição de princesa herdeira, ao menos enquanto Albert não tiver filhos.

O presidente Jacques Chirac, da França, cuja influência continua muito forte no principado em razão de acordos nas áreas política, diplomática e econômica, foi o primeiro a manifestar sua tristeza, definindo Rainier como "personalidade respeitada por todos". O presidente americano, George W. Bush, assinalou que Rainier "será lembrado como um líder respeitado que garantiu a prosperidade do povo de Mônaco".

A última aparição pública de Rainier ocorreu em 18 de fevereiro, quando assistiu, no estádio Louis II, à partida de futebol entre Mônaco e Lyon.

Em mais de meio século de poder quase absoluto, Rainier III transformou seu rochedo, inicialmente um simples "principado de opereta", numa empresa próspera. Ele conseguiu, com suas obras de drenagem na costa de Mônaco, aumentar em um quinto o território do principado, ao todo 189 hectares, e desenvolveu uma mentalidade imobiliária que contribuiu para tornar multimilionária a família Pastor, que controla parte da economia de Mônaco. No começo do novo século, uma comissão parlamentar francesa chegou a suspeitar que a administração estivesse envolvida em lavagem de dinheiro e criticou seu segredo bancário, quase causando uma ruptura entre a França e Mônaco.

Hoje, apenas 5% da receita de Mônaco vem dos cassinos, ao contrário de outros tempos, quando os jogos de azar representavam mais de 30%. No reinado de Rainier, as receitas do Estado cresceram vertiginosamente. Hoje, Mônaco tem um faturamento por volta de 40 bilhões anuais. Na área dos jogos, a profissão de crupiê é reservada aos cidadãos monegascos. Eles são poucos e o salário médio é da ordem de 5,5 mil mensais. Quanto à fortuna pessoal de Rainier, ela é estimada em 2 bilhões.