Título: Investimento e poupança são recordes
Autor: Nilson Brandão Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Economia, p. B3

Relação entre investimento e PIB é a maior em 7 anos. A taxa de poupança de 23,2% em 2004 é a mais elevada na série histórica do IBGE. A taxa de investimento de 2004 chegou a 19,6%, num ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) somou R$ 1,769 trilhão. O dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela a maior relação entre investimento e PIB desde 1998. O instituto também informou que a taxa de poupança cravou 23,2% em 2004, recorde na série histórica. Com o crescimento em 2004, a consultoria GRC Visão estima que o PIB brasileiro subiu da 15.ª para a 12.ª posição no ranking global. Do total do PIB, R$ 185,1 bilhões representaram impostos sobre produtos, um aumento real de 8,5% ante 2003. Os dados não permitem calcular a carga tributária geral, segundo o IBGE, porque ainda serão completados.

No último trimestre, o PIB somou R$ 479,3 bilhões, dos quais R$ 49,3 em impostos - houve desaceleração do crescimento, já que o PIB avançou só 0,4% ante o trimestre anterior. Já no primeiro, segundo e terceiro trimestres, o crescimento foi de 1,8%, 1,5% e 1,1%, respectivamente, ante os três meses anteriores

Pelos cálculos do IBGE, o PIB cresceu R$ 213 bilhões em 2004, em termos nominais. Descontada a inflação, o desempenho foi 5,2% superior ao de 2003, equivalente a R$ 79,1 bilhões. Os R$ 133,9 bilhões restantes foram resultado da variação de preços. Consumo das famílias, investimentos e exportações puxaram o avanço, como destacou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do instituto.

Ainda assim, a participação do consumo familiar teve leve recuo, de 56,7% para 55,3% do total. "Houve perda relativa não porque o consumo das famílias foi ruim, mas apenas porque cresceu menos", disse ela.

A GRC calculou que o PIB brasileiro equivale a US$ 605 bilhões, superando o da Índia, da Coréia do Sul e da Holanda. Mas ainda está longe da 8.ª posição de 1998, quando o real estava valorizado - o que aumenta PIB em dólares. "O Brasil poderia ter sido melhor (a décima economia) se não tivesse caído tanto em 2003, quando o PIB ficou praticamente estagnado (0,5%) por causa do arrocho monetário no primeiro semestre", disse o consultor Alex Agostini. Um dos principais impulsos de crescimento em 2004 veio da expansão real dos investimentos, de 10,9%, o que ajudou a elevar a taxa de investimentos para perto da de 1997 (19,9%) e 1998 (19,7%).

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Correa de Lacerda, estima que a taxa deverá chegar a 21,5% este ano e a 23% no ano que vem. Ele pondera que o Brasil está partindo de uma "base baixa" e esses níveis estão aquém de países asiáticos, com taxas acima de 30%.

Os investimentos foram de R$ 346,2 bilhões ano passado, R$ 69,5 bilhões mais que em 2003 (ou de R$ 30,1 bilhões, descontada a variação de preços). Já a taxa de poupança teve expressiva expansão em relação ao PIB, de 20,4% em 2003 para 23,2% no ano passado. Essa taxa representa o que sobra da renda nacional para investimentos, amortização de dívidas ou reservas.

O saldo do setor de bens e serviços (exportações menos importações) aumentou de R$ 56,1 bilhões para R$ 82,5 bilhões entre 2003 e 2004, ou seja. Assim, a capacidade de financiamento (equivalente ao saldo de transações correntes) saltou de R$ 11,2 bilhões para R$ 35,6 bilhões. Capacidade de financiamento significa que o País não precisou de recursos externos para fechar suas contas.

O principal destaque da economia brasileira em 2004, do ponto de vista das contas financeiras, foi o "processo bastante importante" de amortização de passivos de longo prazo pelo setor público e privado, segundo Adriana Beringuy, da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.