Título: Chávez cria milícias de civis armados e preocupa a oposição
Autor: Associated Press e DPA
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Internacional, p. A16

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, autorizou a formação de contingentes de reservistas para atuar na defesa e segurança do país. O decreto, publicado no diário oficial, cria circunscrições militares de reservistas que se encarregarão de "ajudar na sustentação e defesa da segurança da nação, assim como integrar progressivamente a sociedade civil ao exercício do dever de co-responsabilidade na manutenção da paz nacional", informou o jornal El Nacional. Setores militares e civis da oposição advertiram ontem, porém, que a criação de contingentes de reservistas armados decretada por Chávez tem como meta formar milícias populares que substituirão o Exército regular.

"Chávez sabe que uma Força Armada profissional como a venezuelana não pode servir de apoio a um governo populista como este e, portanto, busca ter milícias ideologizadas, com oficiais não formados nas instituições militares, para ter uma estrutura de comando que vai obedecê-lo cegamente", disse o ex-ministro de Defesa Fernando Ochoa Antich à Unión Radio. Ele destacou que a magnitude das reservas pretendidas pelo governo - entre 1,5 milhão de pessoas e 10% da população de 24 milhões - indica que se pretende criar "uma sociedade militarizada".

Em 4 de fevereiro, Chávez anunciou seu plano de criar as chamadas Unidades de Defesa Populares e na convocação disse que os trabalhadores deveriam se preparar física e mentalmente para uma guerra. Chávez alegou a ameaça de uma invasão americana, possibilidade, porém, que nem é considerada nos relatórios militares que circulam entre os países do Mercosul.

Com um Exército reduzido, de aproximadamente 30 mil militares, a Venezuela deverá ter em breve uma boa reserva de homens capazes de empunhar armas.

Recentemente, os EUA manifestaram sua preocupação com a aquisição de 100 mil fuzis russos AK-47, um volume superior às necessidades reais das Forças Armadas venezuelanas. Os EUA temem que Chávez possa atuar como intermediário para outras forças beligerantes, como a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que utilizam justamente esse tipo de fuzil. A chanceler colombiana, Carolina Barco, recentemente manifestou sua preocupação de que as armas "aposentadas" pela Venezuela possam cair nas mãos da guerrilha.