Título: Mudança de regras na OMC prejudica o Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Economia, p. B6

A escolha do novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) começa segunda-feira, mas ontem mesmo já ficou claro que o processo caminha para um verdadeiro caos e com prejuízos ao Brasil. Pelas regras, a OMC deveria escolher seu novo diretor por consenso. Mas a presidente do Conselho-Geral da OMC, a queniana Amina Chawahir Mohamed, que terá a função de organizar o processo, já indicou que poderá mudar a metodologia e optar por uma espécie de votação. Caso isso ocorra, analistas acreditam que restará pouca chance ao candidato brasileiro, Luiz Felipe Seixas Corrêa. Além do brasileiro, a corrida pelo cargo conta com o uruguaio Carlos Perez del Castillo, o europeu Pascal Lamy e um representante das Ilhas Maurício, Jaya Krishna Cuttare.

A escolha está programada para terminar em maio. Mas a partir de segunda-feira, a OMC receberá em audiências reservadas cada um dos 148 países membros. Eles terão de dizer quem são seus candidatos preferidos. O menos citado será eliminado do processo.

No início da semana, Amina chegou a propor que cada país indicasse só o seu favorito, sem indicar segundas opções. Para observadores, essa metodologia acabaria sendo na realidade uma mera votação, o que não é previsto pelas regras.

O Brasil, apoiado pela Índia e China, rejeitou a proposta e pediu que o processo de consultas preveja não só a indicação de um favorito por cada país, mas que os governos indiquem mais de um candidato de sua preferência. Aparentemente, Amina concordou com a avaliação do Brasil. Mas ontem, em uma reunião, voltou a deixar claro que os países que quisessem poderiam citar só um candidato nas consultas.

Pelos cálculos de diplomatas brasileiros, Seixas Corrêa não teria o mesmo número de votos que outros candidatos. Na América Latina, o Uruguai garante que tem quase todos os votos. Ontem, a Argentina apoiou o uruguaio, isolando o Brasil no Mercosul.

A esperança é que Seixas Corrêa apareça como uma segunda opção de vários países. México, Argentina e Equador já declararam voto a Castillo, mas deixam claro que, entre Lamy e Seixas Corrêa, optariam pelo brasileiro. Para que a segunda opção de cada país fosse considerada, porém, o processo de escolha do diretor não poderá prever só a indicação de um nome na fase inicial que começa na semana que vem.

Uma eventual eliminação de Seixas Corrêa já na primeira rodada não acabará com os problemas do Brasil. O Itamaraty terá de escolher entre Lamy e o Castillo, os dois favoritos. O problema é que o chanceler Celso Amorim já deixou claro que o Brasil não poderia apoiar a candidatura uruguaia. Castillo ganhou a rejeição do Brasil depois que produziu um rascunho do acordo agrícola da OMC, em 2003, e que não incluía as posições do País.

Mas se o Brasil optar por não apoiar Castillo ficará em uma situação complicada no Mercosul, pois será difícil para o governo explicar porque votaria em um representante de um país rico e protecionista e não em um membro do bloco regional. Para piorar, o Uruguai, sob o comando do novo presidente Tabaré Vazques, acaba de entrar no G-20 (grupo liderado pelo Brasil e formado por países emergentes). Caso o Brasil opte por apoiar Lamy, estará votando contra um membro do G-20.