Título: Lula vai apostar na propaganda para tentar reverter agenda negativa
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Nacional, p. A4

Em reunião com ministros, presidente mostrou preocupação com "efeito Marta" e pediu maior publicidade de programas da área social Com a base aliada em frangalhos e sem uma agenda de peso no Congresso, o governo traçou uma estratégia para sair do vácuo político dos próximos meses: jogar todas as fichas na publicidade dos programas sociais. Em reunião com oito ministros, há cinco dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu-lhes que dêem mais visibilidade às iniciativas. Quer que cada um divulgue o que vem sendo feito, pois está convencido de que o governo se comunica mal e será cada vez mais desafiado pela oposição, de olho em 2006. Um ministro que participou da conversa disse ao Estado que Lula está preocupado com o "efeito Marta". Traduzindo: avalia que Marta Suplicy (PT) só perdeu o comando da Prefeitura de São Paulo para José Serra (PSDB) por não divulgar a tempo suas "realizações" no campo social. Candidato à reeleição no ano que vem, o presidente orientou os ministros a transformarem suas viagens pelo País em "agenda positiva" para o governo. "Dêem entrevistas para as rádios locais. Falem dos nossos programas, expliquem o que estamos fazendo", pediu Lula.

A safra dos que sairão a campo será inaugurada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Administrador do Bolsa-Família - guarda-chuva que abriga quatro programas de transferência de renda -, Patrus começará a enviar cartas, nesta semana, para 5.533 prefeituras.

Vai lembrar que todas têm prazo até 30 de junho para apresentar ao ministério relatórios bem detalhados. As informações solicitadas, como número de famílias atendidas pelo Bolsa-Família e evolução da freqüência escolar das crianças, têm o objetivo de impedir fraudes na concessão do benefício.

NA TELEVISÃO

O mutirão do governo para espantar o vácuo político incluirá uma nova leva de comerciais na TV sobre os efeitos práticos do crescimento econômico e dos programas da administração Lula na vida das pessoas.

Para efeito de propaganda, a Secretaria de Comunicação do Governo (Secom) definiu este período como "trimestre da inclusão social".

Até mesmo a versão final do documento aprovado há duas semanas pelo Campo Majoritário do PT - grupo que abriga as alas moderadas do partido - dará maior ênfase nessa área. Batizado de "Bases de um projeto para o Brasil", o roteiro é o primeiro passo para a mudança do ideário político do PT, em dezembro. Teve boa repercussão externa por defender com todas as letras o equilíbrio fiscal. No Planalto, porém, alguns torceram o nariz para o pouco espaço dado aos programas sociais.

Escrito pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Glauco Arbix, e pelo professor da Fundação-Escola de Sociologia e Política, Aldo Fornazieri - ligado ao presidente do PT, José Genoino, e considerado mais liberal que o próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci -, o texto receberá emendas. Nada que altere o seu conteúdo, mas a idéia é reforçar o capítulo que trata das políticas sociais.

Apesar de todo esse pacote, os ministros não param de reclamar da tesourada imposta pela Fazenda no orçamento. Queixam-se de que, com o bloqueio de recursos, não dá para tocar todos os programas. Números divulgados pelo Ministério do Planejamento indicam que R$ 4 bilhões serão cortados neste ano das políticas sociais - incluindo aí a reforma agrária.

"Se o esforço para combater o déficit da Previdência for bem-sucedido, poderemos aumentar os investimentos sociais", afirma o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O problema é que, nesse capítulo, a situação é ainda mais complicada. O novo ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB), enfrenta um turbilhão de denúncias de irregularidades no uso do dinheiro público. Resultado: desde que foi nomeado, há um mês, não consegue sair da areia movediça.

MOSTRAR SERVIÇO

Na disputa de resultados com os tucanos, os petistas farão de tudo para mostrar serviço até março, quando ocupantes de cargos públicos que pretendem se candidatar às eleições devem deixar seus postos. "Quem é o PSDB para dizer que o nosso governo é ineficiente?", pergunta o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. "O que nós temos de realizações nestes 27 meses, e que vamos fazer até o fim do governo, é para dar orgulho ao Brasil."

Com a ajuda de parlamentares do PT, o Planalto identificou tentativas da oposição, e até dos aliados, para "desconstruir" o partido e o governo com o carimbo da ineficiência. "O PT não pode ser o depositário de todos os males", diz o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara. "O que estão tentando fazer com o governo do presidente Lula é o mesmo que fizeram com a administração da prefeita Marta. Mas nós vamos desmistificar isso", garantiu.