Título: Visita de Bush ao Brasil depende de Condoleezza
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Nacional, p. A5

Secretária de Estado chega amanhã para avaliar situação e decidir se presidente virá ao País em novembro encontrar-se com Lula Um dos principais objetivos da secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, nas pouco mais de 24 horas que passará no Brasil, a partir de amanhã, é avaliar se o presidente George W. Bush seria bem recebido no Brasil. Se concluir que sim, dará início aos preparativos de uma visita oficial do presidente americano ao País, programada em princípio para novembro, quando ele viajará à Argentina para participar da Cúpula das Américas. O convite a Bush foi feito o pessoalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando esteve em Washington, em junho de 2003, e reiterado pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em recente viagem à capital americana.

Um dado saliente sobre a visita de Condoleezza Rice a Brasília é que ela foi acertada por Dirceu, e não pelo ministro das Relações Exteriores, chanceler Celso Amorim, chefe da diplomacia brasileira, que somente agora, mais de quatro meses depois da posse da secretária de Estado americana, terá seu primeiro encontro formal com ela.

Do ponto de vista de Washington, a estratégia de ampliar os canais de comunicação com o governo brasileiro para além do Itamaraty - que não é nova e, no caso de Dirceu, contou com a ajuda do empresário Mário Garnero e seus contatos com a família Bush - revelou-se eficaz às vésperas da chegada de Condoleezza.

Na semana passada, dois dias antes de Lula declarar que a "Alca (Área de Livre Comércio das Américas) está fora da agenda", num improviso que refletiu a visão, senão o desejo ardente, de adversários do acordo regional que ocupam postos-chave no Ministério da Relações Exteriores, Dirceu dissera exatamente o oposto a um grupo de emissários do governo e do empresariado da Flórida.

CRÍTICA AO ITAMARATY

Segundo pessoas presentes ao encontro, o ministro enfatizou a necessidade de maior dinamismo nas exportações brasileiras para os Estados Unidos e incluiu a atuação do Itamaraty nas críticas que fez à falta de resultados nas negociações, empacadas há 15 meses, sobre a Alca, que brasileiros e americanos presidem conjuntamente.

A despeito das enormes dificuldades que o Executivo vem enfrentando no Congresso para garantir a ratificação do Cafta, o acordo comercial que negociou com a América Central e a República Dominicana, e da crescente instabilidade política na região, ilustrada pela situação no Equador, a maior liberalização e maior integração econômica do hemisfério, via Alca, e o aprofundamento da democracia continuam a ser as vigas-mestras da estratégia dos EUA para a região.

EQUADOR E VENEZUELA

É isso, e o papel central de liderança que vê o Brasil desempenhar nas duas áreas, que Condoleezza deve reiterar em seu encontro com o presidente Lula, amanhã, e no discurso que fará na quarta-feira, no memorial JK, segundo funcionários americanos envolvidos nos preparativos da visita. O discurso foi pensado como a única grande declaração de política hemisférica que a secretária de Estado fará em sua primeira visita à América do Sul, que incluirá escalas em Bogotá, Santiago e se estenderá a El Salvador.

A instabilidade no Equador e as ações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em outros países do continente devem ocupar lugar destacado na agenda da secretária de Estado. Sobre Chávez, Condoleezza deve repetir a Lula o que já disse a Dirceu, ou seja, que Washington estranha a atitude de contemporização de Brasília com o presidente venezuelano, pois vê suas iniciativas a respeito de países como a Bolívia e a Colômbia, por exemplo, como desestabilizadoras e contrárias ao tipo de integração que o próprio governo brasileiro busca com seus vizinhos.

Também não se deve esperar endosso americano à pretensão brasileira de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A secretária de Estado deve ser vaga sobre o tema, a não ser para lembrar que, para os EUA, a reforma do Conselho de Segurança é apenas uma parte da reforma pela qual a ONU deve passar.